7 de outubro de 2020 Salvar link Foto: Alia Zukrina / Unsplash
Saúde

Highlights

  • Pesquisa em 24 escolas de Teresina mostra que os ultraprocessados respondem por 24% e 27% das calorias totais de adolescentes da rede pública e privada, respectivamente
  • Consumo é maior entre as meninas (27,5%), jovens de 17 a 19 anos (26,6%) e com renda média familiar superior a dois salários mínimos (27,1%)
  • Adolescentes que consumiram mais ultraprocessados tiveram taxas mais altas de triglicerídeos e menos ingestão de fibras e proteínas

Estudo realizado com 327 adolescentes de 14 a 19 anos matriculados no ensino médio em 12 escolas públicas e 12 escolas privadas de Teresina, no Piauí, evidencia a alta prevalência do consumo de alimentos ultraprocessados (AUP) entre esses jovens. Uma média de 27% das calorias consumidas pelos jovens de escolas privadas proveem desses alimentos, o que foi associado com taxas baixas de colesterol bom (HDL-c) e taxas elevadas de triglicerídeos e de gordura no sangue. Nas escolas públicas, o consumo é menor — 24% das calorias consumidas são de ultraprocessados. As observações são de pesquisadoras do Departamento de Biofísica e Biologia e Departamento de Nutrição da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e do Colégio Técnico de Teresina em estudo publicado em 7 de outubro na revista “Ciência & Saúde Coletiva”.

Com o objetivo de analisar a associação entre o consumo de AUP e parâmetros lipídicos, elas aplicaram um questionário nas turmas de alunos, em que registraram o que consumiram nas últimas 24 horas. Esses dados foram cruzados com os níveis de colesterol total, colesterol bom (HDL-c) e triglicerídeos dos alunos, coletados por meio de exame de sangue. Os resultados mostram que o consumo desses alimentos foi mais frequente nas adolescentes do sexo feminino (27,5% das calorias contra 21,4% registrados entre os meninos); na faixa de 17 a 19 anos (26,6% contra 23,6% entre os alunos de 14 a 16); entre os que têm renda familiar superior a dois salários mínimos (27,1% contra 24,2% com renda familiar inferior a dois salários mínimos) e matriculados em escola particular (27% contra 24% na rede pública).

De acordo com a nutricionista Karoline de Macêdo Gonçalves Frota, uma das autoras do estudo, os dados de que o consumo de ultraprocessados é mais frequente entre adolescentes com renda familiar mais alta corroboram os achados da Pesquisa de Orçamento Familiar (2017-2018), em que foi verificado que as famílias de menor renda consomem mais alimentos in natura, representado pelo arroz e feijão, e menos alimentos ultraprocessados. Nesta amostra, “o maior consumo de ultraprocessados pode estar relacionado ao preço destes alimentos. Embora eles estejam cada vez mais baratos, ou estarem próximos do preço dos alimentos in natura, ainda há produtos caros que são proibitivos para boa parte da população”, destaca Karoline Frota.

Na adolescência, destaca o estudo, é comum que o hábito alimentar inadequado esteja associado ao estilo de vida moderno da sociedade. A substituição das refeições tradicionais por ultraprocessados é cada vez mais comum, tanto no ambiente domiciliar quando fora do domicílio. O trabalho mostra que as bebidas açucaradas se destacam em relação às alterações lipídicas, obesidade, ganho de peso, doenças cardiovasculares (DCV) e diabetes tipo 2. As gorduras trans afetam negativamente a saúde cardiovascular e as carnes processadas aumentam o risco para DCV e alguns tipos de câncer.

Merenda escolar

A nutricionista Karoline Frota destaca a importância do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que oferece alimentação escolar e ações de educação alimentar e nutricional a estudantes de todas as etapas da educação básica, incluindo o ensino médio. Segundo ela, o PNE recomenda alimentos variados e seguros, incluindo gêneros alimentícios preferencialmente da agricultura familiar e limita a oferta e o consumo de alimentos processados de baixo valor nutricional, ricos em açúcar, gordura e sal. “É estabelecido um limite para aquisição de alimentos enlatados, embutidos, doces, alimentos compostos, preparações semiprontas ou prontas para o consumo, assim como dos alimentos concentrados. Proíbe, ainda, a aquisição de bebidas com baixo valor nutricional”, pontua.

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O consumo de alimentos ultraprocessados deve ser desestimulado, em alguns casos, por meio da proibição da comercialização, principalmente quando se pensa nas cantinas das escolas, local onde o público-alvo são crianças e adolescentes, opina Karoline. “Outro aspecto importante é a publicidade dos alimentos ultraprocessados que, com sedução e atração do público, convence muitas pessoas a comprarem esses produtos. Ela impacta diretamente na saúde da população, pois influencia no aumento do excesso de peso/obesidade, dislipidemias e diabetes”.

No caso das escolas públicas, conclui a nutricionista, existe uma maior fiscalização quanto a alimentação oferecida nas cantinas, com oferta de alimentos mais saudáveis. Essa condução acaba por ajudar na formação de hábitos mais saudáveis de crianças e adolescentes.

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Fonte: Agência Bori

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Publicado na Bori em 7/10/2020, 21:00 – Atualizado em 1/3/2023, 15:33