Sete espécies de peixes foram identificadas pela primeira vez no Brasil, na bacia do rio Amazonas, no norte do estado do Pará. Seis dessas espécies também nunca haviam sido registradas na Bacia Amazônica. No total, 286 espécies de peixes foram mapeadas pelos pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi em expedições do projeto Calha Norte, parceria com a ONG Conservação Internacional e a Secretaria Estadual de Meio Ambiente que tinha a intenção de inventariar rios de difícil acesso da parte norte do rio Amazonas. O artigo que apresenta o inventário rápido da expedição estão na revista “Acta Amazônica” de 2 de março de 2020.
Interessados em conhecer a fauna aquática pouco explorada da região paraense do Escudo das Guianas, os pesquisadores realizaram sete expedições em cinco áreas de proteção estadual do Sistema de Drenagens do norte do Pará de janeiro de 2008 a janeiro de 2009. Com redes de pesca, eles coletaram amostras de espécies de peixes de 76 locais, incluindo canais e córregos de cabeceiras de rios e lagos das bacias dos rios Jari, Nhamundá, Ipitinga e Curuá, Cuminá, Paru e Mapuera. Segundo relata o pesquisador Guilherme Dutra, um dos autores da pesquisa, por estarem em regiões isoladas, alguns rios foram acessados pelo grupo de pesquisadores com uso de helicópteros. No laboratório, a identificação das espécies, que contou com a colaboração de vários especialistas, levou em conta características dos peixes como cor, padrão das escamas e tamanho das nadadeiras.
Para Dutra, que hoje está no Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP), o estudo da fauna de peixes de uma região pouco impactada pela ação do homem pode ajudar os pesquisadores a entender processos mais amplos da natureza, como a evolução das espécies na sua interação com o ambiente e com a geologia do local. “Rios e bacias mais altas do Escudo da Guiana, no norte da região analisada, têm espécies de peixes endêmicas, ou seja, que só ocorrem ali, por causa da própria geologia do local, que mantém rios isolados”, comenta. O inventário de espécies relatado no estudo pode servir para embasar outros programas de pesquisa e conservação de espécies na região.
Esse estudo, de acordo com o pesquisador, constitui um primeiro retrato da fauna de peixes da região. Portanto, ainda deve existir uma diversidade de espécies a serem descobertas e catalogadas pelos pesquisadores. Por envolver um planejamento logístico apurado e um alto custo, outras expedições de pesquisa do Museu Goeldi naquela área ainda não estão previstas. O pesquisador comenta que expedições para regiões desconhecidas é uma tendência atual de várias instituições de pesquisa.