10 de fevereiro de 2021 Salvar link Foto: Sippakorn Yamkasikorn / Unsplash
Ambiente

Highlights

  • Pesquisa descreve as características epidemiológicas de 54.980 casos de envenenamento por animais peçonhentos de 2007 a 2019 no Ceará
  • Picadas de escorpiões lideram os casos, enquanto picadas de abelha registram maior taxa de letalidade
  • Apenas 5% dos casos tiveram acesso à soroterapia

Problema de saúde pública negligenciado na maioria dos países tropicais, a ocorrência de envenenamento por animais peçonhentos, como escorpiões, abelhas, aranhas e serpentes, no nordeste brasileiro ainda é pouco conhecida pelos estudiosos. Uma pesquisa da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará com as universidades federais do Recôncavo da Bahia e do Ceará revela que a incidência de envenenamento no estado do Ceará aumentou mais de seis vezes entre 2007 e 2019. O estudo está na edição de quarta (10) da “Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical”.

A pesquisa descreve as características epidemiológicas de 54.980 casos de envenenamento registrados no Ceará no período. Os dados foram obtidos por meio do Sistema de Informação de Agravos de Notificação online (Sinan), alimentado por profissionais de saúde com informações de doenças e agravos de notificação compulsória, e analisados com base nas variáveis: número de acidentes/ano, número de acidentes por grupo zoológico, recebimento de terapia antiveneno (dose de soro), zona de ocorrência, sexo, distribuição por faixa etária e óbitos.

As faixas etárias mais afetadas foram de 10 a 19 anos e 40 a 59 anos (igualmente registrando 21,4%), e os eventos foram mais comuns entre as mulheres (52,4%). As picadas de escorpiões lideram os casos (67%), enquanto as picadas de abelhas registram a maior taxa de letalidade. As ocorrências foram 10 vezes mais comuns em áreas urbanas, principalmente nos meses mais chuvosos, e apenas 5% das pessoas tiveram acesso à soroterapia.

O exponencial aumento de registros no Ceará na última década é multifatorial, conforme explica Jacqueline Ramos Machado Braga, principal autora do estudo, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). “Além da notificação compulsória de acidentes causados por animais peçonhentos (obrigatória a partir de 2010), outros fatores, como o crescimento urbano desorganizado e o desequilíbrio ecológico, podem explicar esse aumento. Algumas espécies de escorpiões se adaptaram muito bem às condições do ambiente urbano, devido à vasta oferta de alimento, resultante do acúmulo de lixo doméstico”, explica Jacqueline.

Tratamentos disponíveis no SUS

Acidentes causados por serpentes (mais comuns na região Norte), escorpiões e aranhas contam com tratamento antiveneno (dose de soro) específico para cada espécie capaz de neutralizar as toxinas de cada veneno de forma eficaz. Os soros são produzidos no Instituto Butantan, Instituto Vital Brazil, Fundação Ezequiel Dias e Centro de Produção e Pesquisa em Imunologia do Paraná, e distribuídos gratuitamente pelo Ministério da Saúde via Sistema Único de Saúde (SUS), de acordo com a notificação de casos de cada região.

Impressiona o fato de que, na amostra do estudo, apenas 5,3% das pessoas envolvidas em eventos de envenenamento receberam essa terapia. “Apesar da gratuidade da distribuição, o acesso a este medicamento ainda é difícil, especialmente em regiões longínquas do Brasil”, observa Jacqueline.

Para a pesquisadora, tornar o tratamento mais acessível é o maior desafio, já que a produção de soros antipeçonhentos no Brasil não segue a prerrogativa de regionalização da Organização Mundial da Saúde (OMS), que facilitaria sua logística de distribuição a locais com maiores demandas.

Outro elemento importante é de intensificar ações de capacitação de profissionais de saúde na atualização e identificação de acidentes causados por animais peçonhentos e de educação ambiental em escolas, feitas no Ceará, pelo Núcleo de Controle de Vetores (NUVET/SESA), vinculado à Secretaria de Saúde do Estado do Ceará. “É importante intensificar essas ações principalmente nos pequenos municípios, no sentido de aprimorar as escolhas de condutas médicas e sensibilizar a população sobre a prevenção de acidente, além de orientar quanto aos primeiros socorros quando há envenenamento”, analisa a bióloga.

DOI: https://doi.org/10.1590/0037-8682-0511-2020

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Fonte: Agência Bori

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Publicado na Bori em 10/2/2021, 23:00 – Atualizado em 7/9/2022, 8:51