O Cerrado brasileiro pode sofrer impactos significativos nos próximos 30 anos devido à irregularidade de chuvas na região, de acordo com novo estudo de cientistas brasileiros divulgado em janeiro na “Revista Brasileira de Meteorologia”. A causa é o aumento de períodos de estiagem durante estações tradicionalmente chuvosas, como o Verão, ameaçando o abastecimento de água de grandes cidades e para a agricultura. Projeções climáticas realizadas por pesquisadores da Universidade Estadual do Ceará (UECE) demonstraram que haverá irregularidade de chuvas no Centro-Oeste e Nordeste brasileiros.
Os pesquisadores estavam interessados em aprimorar o conhecimento da variação sazonal das chuvas no Brasil e investigaram características de veranicos no país ocorridos no Verão e Outono entre 1971 e 1999. Com isso, conseguiram uma projeção climática referente ao período entre 2021 e 2050. Os autores também queriam entender a relação entre os picos de estiagem e os anos de ocorrência dos fenômenos El Niño e La Niña no Oceano Pacífico.
O estudo usou dados de precipitação diária sobre o Brasil do banco de dados do National Center Environment Prediction-Climate Prediction Center, da National Ocean and Atmospheric Administration (NOAA) dos Estados Unidos. As comparações entre os dados e a projeção para o período de 2021 a 2050 foram feitas com uso de dados de projeções de precipitação diária dos modelos do projeto CMIP5 (Coupled Model Intercomparison Project 5th Phase), modelos de projeção climática que são rodados em vários centros de estudos meteorológicos ao redor do mundo.
Regiões vulneráveis precisam de mais atenção
Caracterizados por interromper estações chuvosas com temperaturas elevadas, sol intenso e falta de precipitação, os veranicos podem afetar a agricultura, a criação de gado e a distribuição de energia e água do cerrado e semiárido brasileiros. Segundo o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), regiões semiáridas do Centro-Oeste e Nordeste tendem a se tornar ainda mais vulneráveis com os impactos das mudanças climáticas.
Para o pesquisador José Maria Brabo Alves, a projeção da frequência destes fenômenos pode ajudar tomadores de decisão a planejarem formas de mitigar seus efeitos. A otimização do uso da água e a adaptação das atividades socioeconômicas dessas regiões ao novo cenário são algumas saídas apontadas pelo pesquisador.
A pesquisa serve de alerta também com relação à segurança alimentar brasileira nas próximas décadas. Estudos de melhoramento genético de culturas podem ser desenvolvidos para criar espécies de plantas resistentes à escassez de água e que mantenham o mesmo nível de produtividade.