Na próxima década, o Brasil se tornará um país idoso: em 2029, teremos 40,3 milhões de habitantes com 60 anos ou mais, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Quem cuidará dessa população mais envelhecida? Outros idosos, sofrendo de dupla vulnerabilidade ao lidarem com demandas da própria saúde e daqueles por quem são responsáveis – é o que alertam pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade de São Paulo (USP).
Uma pesquisa realizada com 148 homens e mulheres que já vivem essa realidade, cuidando informalmente de outros idosos com deficiências físicas ou comprometimentos cognitivos, identificou associações entre essa dupla vulnerabilidade e prejuízos à qualidade de vida. Os resultados foram publicados em fevereiro na revista científica “Paideia”.
Os participantes da pesquisa foram selecionados em consultórios geriátricos ou de especialidades relacionadas (da rede pública de saúde ou que receberam atendimento privativo domiciliar) das cidades paulistas de Campinas, Jundiaí, Indaiatuba, Vinhedo, Sorocaba, Itapetininga e São Paulo e na capital pernambucana, Recife.
Em entrevistas realizadas pelos pesquisadores, quando não era possível para o cuidador permanecer fora de casa, foram consideradas condições sociodemográficas, qualidade de vida, autoavaliação da saúde, sobrecarga percebida e medições da integridade física e cognitiva do cuidador e de quem estava sendo cuidado.
Piora na qualidade de vida
O trabalho mostrou que os cuidadores idosos com risco mais elevado de piora da qualidade de vida sofriam de três ou mais doenças, sobrecarga média ou alta e piora na avaliação de saúde comparada com o passado. “O papel do cuidado geralmente é assumido pelo parceiro, que também é idoso, já que é socialmente estabelecido que entre o casal deve haver cuidado mútuo. O cuidador idoso também pode ser um filho ou uma filha movido por um sentimento de retribuição. Dessa forma, o cuidado perde em destreza e conhecimento técnico e aglutina riscos”, explica a psicóloga Letícia Decimo Flesch, doutora em Gerontologia pela Unicamp.
A pesquisadora lembra ainda que “é esperada uma maior debilidade na saúde ao longo do envelhecimento, sendo importante, para seguir estudando cuidadores idosos, avaliar não só as condições físicas imediatas, mas a percepção futura de mudanças com o passar do tempo”.