Pesquisa realizada em escolas da região metropolitana do Recife (PE) identificou que crianças de cinco anos de idade da rede pública tem habilidade de leitura cinco vezes menor em relação a alunos da rede privada, evoluindo 84% mais devagar no aprendizado ao longo do tempo. Os resultados foram publicados em janeiro na revista científica “Cefac”, da Associação Brasileira de Motricidade Orofacial (Abramo).
Foram avaliadas 389 crianças de 17 escolas privadas e 12 públicas matriculadas no Pré-II, último estágio da Educação Infantil, entre 2017 (ano em que apenas três das 100 escolas com as maiores notas no Enem, o Exame Nacional do Ensino Médio, eram públicas, sendo todas da rede federal de ensino) e 2018.
Para isso, um grupo multidisciplinar de pesquisadores das áreas de educação e psicologia ligados à startup Escribo e à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) utilizaram testes que mensuram habilidades iniciais de leitura e escrita, mais especificamente o reconhecimento e a redação de palavras e pseudopalavras (pronunciáveis, mas sem significado) isoladas com estruturas silábicas simples.
Desigualdade na educação começa cedo
Cada criança foi avaliada individualmente em dois momentos, no início e ao final do ano letivo. De acordo com os resultados da pesquisa, o progresso no desempenho de leitura e escrita das escolas particulares foi maior em relação aos alunos das escolas públicas, acentuando a discrepância de aprendizagem existente.
“As diferenças de desempenho identificadas nas amostras são importantes e apontam para a urgência de desenvolvermos estratégias específicas para as necessidades de cada rede de ensino, pública e privada, e região geográfica, que tem realidades socioeconômicas e culturais distintas”, diz Américo Nobre Gonçalves Ferreira Amorim, que é o coordenador da pesquisa. “A desigualdade no processo de educação começa cedo e precisa ser combatida desde então.”
Os pesquisadores trabalham agora em intervenções nas escolas que participaram do estudo para avaliação de estratégias que possam diminuir a desigualdade observada.
A investigação foi realizada com apoio financeiro do CNPq e suporte da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco (Facepe) por meio do Programa Pesquisador na Empresa de Pernambuco (Pepe).