Serviços de saúde da região sul de Minas Gerais falharam em detectar casos crônicos de intoxicação por agrotóxicos em trabalhadores rurais das lavouras cafeeiras identificados em amostras de pesquisa. Esse é o resultado de estudo da Universidade Federal de Alfenas, da Universidade Federal de Lavras e da Universidade José do Rosário Vellano, em Alfenas, Minas Gerais. A pesquisa, publicada na “Revista de Saúde Pública” de janeiro de 2020, mostrou que esses serviços de saúde não têm os atributos essenciais à Atenção Primária de Saúde.
Com conhecimento de que a exposição de trabalhadores rurais a agrotóxicos é alta na região sul de Minas, devido às lavouras de café, os pesquisadores se interessaram em avaliar a qualidade dos serviços de atenção primária à saúde no atendimento a essas pessoas. Para isso, eles realizaram um estudo com 1.027 trabalhadores rurais de 26 municípios mineiros pertencentes à mesma superintendência regional de saúde.
Eles coletaram dados socioeconômicos, de histórico de intoxicação e internação por agrotóxicos e uso de equipamentos de proteção individual, por meio de questionários, e amostras sanguíneas para analisar sinais de exposição a agrotóxicos. O serviço de atenção primária à saúde foi avaliado com um instrumento chamado PCATool. Ele indica uma lista de atributos para identificar se o atendimento à saúde é satisfatório. A integralidade dos serviços básicos de promoção, cura e reabilitação da saúde, a existência de uma atenção contínua ao usuário ao longo do tempo e o quanto o usuário se identifica com o serviço são levados em consideração.
Enzima alterada sinaliza intoxicação
Segundo os resultados do estudo, 20% da população analisada apresentou alterações na enzima colinesterase, um indicador de intoxicação por agrotóxicos. Para a pesquisadora Alessandra Silvério, o uso inadequado dos produtos pelos trabalhadores rurais pode explicar essa alta taxa de intoxicação.
Outra questão mencionada por ela é a falta de assistência para casos de intoxicação nesta área rural. “Nos 26 municípios da pesquisa, as equipes de saúde da família de zona rural desconheciam o método de avaliação por dosagens de colinesterases, usado para detectar casos de intoxicação por agrotóxicos. Eles também não sabiam a importância de monitorar os trabalhadores que manuseiam essas substâncias de forma contínua”, comenta a pesquisadora.
Os resultados do estudo podem servir de base para melhorar o atendimento de saúde em regiões rurais do Brasil, dando atenção especial à intoxicação por agrotóxicos. Segundo dados do Ministério da Saúde, Minas Gerais está na terceira posição entre estados com maior número de notificações de contaminação por agrotóxicos. Entre 2007 e 2014, foram 10.625 casos notificados. Em todo o território brasileiro, no mesmo período, tivemos uma média de 3.125 casos por ano, o que representa oito intoxicações diárias por agrotóxicos registradas.
O estudo propõe que o sistema único de saúde adote o método de determinação da atividade de colinesterases eritrocitária para detectar a doença e, também, trabalhe no treinamento de equipes para atuar na proteção e promoção da saúde de trabalhadores vulneráveis a esse tipo de intoxicação.