19 de fevereiro de 2020 Salvar link Foto: Jefferson Rudy / Fotos Públicas
Medicina e Saúde

Highlights

  • Entre crianças menores de 15 anos, cura da hanseníase aumenta em cerca de 55% se a criança faz parte de uma família beneficiária do Bolsa Família
  • Pesquisadores analisaram 11.456 pessoas recém diagnosticadas com hanseníase no Brasil
  • Condições socioeconômicas são consolidadas cientificamente como determinantes para desenvolvimento, tratamento e cura da hanseníase

O maior estudo de acompanhamento individual de pessoas com hanseníase do mundo gerou novos resultados: a adesão ao tratamento aumenta em cerca de 22% e a cura em 26% quando a pessoa com hanseníase é beneficiária do Programa Bolsa Família. Entre crianças menores de 15 anos, este efeito é ainda maior: a adesão ao tratamento e a cura da hanseníase aumentam em cerca de 55% se a criança faz parte de uma família beneficiária do programa. Esses achados foram publicados na edição de fevereiro da revista científica The Lancet Global Health, uma das mais conceituadas no mundo na área de saúde, pelo Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia) sob a liderança da epidemiologista Júlia Pescarini.

Os pesquisadores analisaram os dados individuais de pessoas com diagnóstico de hanseníase entre 2007 e 2014. No total, foram analisadas 11.456 pessoas recém diagnosticadas com hanseníase. Desses, 8.750 que receberam o benefício do Bolsa Família foram comparados com o restante das pessoas que não receberam.

O estudo indica que as condições socioeconômicas (baixa renda, falta de informação e a habitação precária) são consolidadas cientificamente como determinantes para desenvolvimento, tratamento e cura da hanseníase, ou mesmo ter sequelas permanentes desencadeadas pela doença. “Nesse sentido, o efeito do programa Bolsa Família pode estar associado ao fato de que famílias beneficiárias possuem maior segurança alimentar e que as crianças incluídas no programa precisam cumprir certas condicionalidades. Isso inclui alta adesão escolar e ida frequente ao Posto de Saúde para o monitoramento do crescimento e para o cumprimento do calendário de vacinação, o que gera mais exposição aos serviços de saúde”, explica Pescarini. Além disso, a autora sugere que o beneficio de renda do programa pode colaborar para redução dos gastos indiretos do tratamento, como deslocamento até o posto de saúde, o que melhoraria a adesão ao tratamento da hanseníase.

No ano passado, o grupo de pesquisadores publicou outros achados sobre o tema, como os fatores socioeconômicos que elevam a possibilidade de o indivíduo desenvolver hanseníase: as chances dobram quando há ausência de renda, escolaridade e/ou condições inadequadas de habitação. Além disso, a magnitude do estudo permitiu que, pela primeira vez, pudessem ser analisados critérios étnicos com precisão. Após ajustadas todas as outras características, a análise indicou que pessoas autodeclaradas pretas e pardas são mais propensas a ter a doença do que as brancas. Outros dados encontrados mostram que o risco de uma criança contrair hanseníase na região Norte do Brasil é 34 vezes maior do que no Sul. Moradores do Norte ou Centro-Oeste têm de cinco a oito vezes mais chances de contrair a doença, sendo o Nordeste a terceira região de incidência. O risco de hanseníase é 40% maior nas pessoas em situação de pobreza em relação a indivíduos com renda acima de um salário mínimo.

Além do Cidacs, o estudo contou com a participação de uma rede de pesquisadores da London School of Hygiene & Tropical Medicine e Health Data Research, no Reino Unido, Instituto de Saúde Coletiva e Instituto de Matemática Estatística da Universidade Federal da Bahia, Universidade Federal Fluminense (UFF), Núcleo de Medicina Tropical da Universidade de Brasília (UnB) e Fiocruz Brasília. No Brasil, os estudos tiveram financiamento da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal, Confap, CNPq e Capes.

Hanseníase

A hanseníase é uma doença crônica e infectocontagiosa causada pela Mycobacterium leprae, e atinge, ainda hoje, 200 mil pessoas, sendo que a cada dez novos casos no mundo, um acontece no Brasil, segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas/ONU). No Brasil, em 1976 foi determinado o uso da palavra hanseníase para se referir a doença, pelo estigma que a denominação lepra causava aos pacientes. Todo o tratamento é fornecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) de forma totalmente gratuita a todos os pacientes diagnosticados. A Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza que uma vez confirmado o caso, o paciente deve começar imediatamente o tratamento medicamentoso: a poliquimioterapia (PQT) com antibióticos, cuja duração varia segundo a forma clínica da doença, a idade do paciente e sua tolerância ao medicamento.

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Fonte: Agência Bori

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Publicado na Bori em 19/2/2020, 16:55 – Atualizado em 21/2/2021, 13:39