4 de dezembro de 2023 Salvar link Foto: Leila Maria Costamilan / Embrapa Imagens
Agronegóciolavoura de soja
Organismos internacionais pedem mais transparência sobre a origem e produção da soja no Brasil, segundo relatório

Highlights

  • Pesquisa analisou papel de empresas e do Estado na governança da cadeia produtiva da soja no país, a partir de documentos públicos
  • Dados sem padronização dificultam o controle da origem e produção da soja, o que inclui questões como desmatamento e desrespeito a direitos humanos
  • A sojicultura brasileira enfrenta crescentes pressões internacionais por maior transparência e responsabilidade socioambiental

Grandes empresas produtoras de soja são as responsáveis por determinar as normas do seu setor produtivo e por definir se a cadeia produtiva do grão cumpre com critérios de responsabilidade socioambiental, em relatórios anuais — papel de fiscalização que deveria ser executado pelo Estado. As conclusões são de um relatório divulgado nesta semana por pesquisadoras do Grupo de Pesquisa em Sociologia das Práticas Alimentares (SOPAS) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

O documento mostra a ausência do Estado no processo de monitoramento e divulgação de dados sobre a produção de soja no país e a falta de uma definição sobre um processo produtivo sustentável nos relatórios das empresas, o que gera lacunas no rastreamento desta produção. As pesquisadoras analisaram dados de documentos públicos do setor de sustentabilidade das empresas da cadeia da soja, de relatórios de desempenho dos programas e certificações. Elas também realizaram entrevistas entre abril e junho de 2023 com representantes do setor e entidades ambientalistas ativas no debate sobre sojicultura.

O objetivo foi entender a governança na cadeia produtiva da soja no Brasil, diante da demanda por transparência e responsabilidade socioambiental. O relatório aponta que a partir do momento em que as empresas determinam suas metas, sem que exista uma padronização sobre quais aspectos são relevantes e como tais informações devem ser divulgadas, se torna difícil obter dados sobre desmatamento, trabalho escravo, uso de agrotóxicos e invasões de terras indígenas.

Marília Luz David, professora adjunta do departamento de Sociologia da UFRGS e autora do estudo, destaca a importância do setor da soja e do Estado brasileiro se articularem para entrar no debate internacional sobre regras mais rígidas para a compra de produtos de origem agropecuária. Hoje, a expansão agropecuária da soja é responsável por índices altos de desmatamento no Cerrado, o que poderia trazer perdas de fatias de mercado em países com normas de governança mais rígidas como a China e alguns países da União Europeia.

“Estes resultados nos permitem sugerir que uma maior participação do Estado é bem-vinda na regulação e padronização dos modos de rastrear a soja e reportar resultados, assim como na articulação de compromissos internacionais com os maiores compradores da soja brasileira – notadamente, a China”, afirma David.

O trabalho das pesquisadoras chama a atenção para a emergência de modelos corporativos de governança ambiental. “Um olhar a partir dos estudos sociais, das ciências e das tecnologias pode oferecer novas perspectivas para questões do agronegócio no país, em particular, quais visões de vida em sociedade – o que queremos para biomas como Amazônia e Cerrado? – estão incorporadas em tecnologias, formas de mensuração e avaliação de práticas produtivas que prometem tornar a cadeia da soja mais sustentável e responsável “, diz a pesquisadora.

Para dar continuidade a essa pesquisa, David e Ângela Camana, doutora em Sociologia pela UFRGS e coautora do artigo, pretendem seguir explorando os acordos corporativos de governança ambiental na cadeia da soja, principalmente como são definidas a “soja livre de desmatamento e de conversão de vegetação nativa”. “O termo aparece em diversos documentos de empresas do setor e, por isso, precisa ser estudado”, explicam as autoras.

Termos de uso

Todos os releases sobre as pesquisas nacionais já publicados na área aberta da Bori (e que, portanto, não estão sob embargo) podem ser reproduzidos na íntegra pela imprensa, desde que não sofram alterações de conteúdo e que a fonte Agência Bori seja mencionada.

Veja como citar a BORI quando for publicar este artigo:

Fonte: Agência Bori

Ao usar as informações da Bori você concorda com nossos termos de uso.

Publicado na Bori em 4/12/2023, 11:45 – Atualizado em 9/1/2024, 14:28