Novo estudo do Painel do Rio Doce – grupo independente convocado e gerido pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) – destaca a necessidade de uma abordagem integrativa, que relacione a saúde humana à saúde do meio ambiente com base no modelo econômico histórico da região e nos novos desafios após o rompimento da barragem de rejeitos de Fundão, em Mariana, MG, em novembro de 2015. O trabalho será publicado no dia 13 de março.
Relatórios técnicos e artigos científicos disponíveis produzidos após o desastre mostram que os impactos intensificaram as alterações (ou danos) já existentes. A onda de lama varreu o Rio Doce, percorrendo 670 km até o Oceano Atlântico, configurando um dos piores desastres ambientais da história do Brasil. Sedimentos depositados previamente por atividades econômicas – em especial a mineração e a pecuária extensiva – juntamente com esgoto sem tratamento e produtos químicos tóxicos levados pela enchente contribuíram para a contaminação da paisagem e dos recursos hídricos.
Natureza como aliada
Exemplos nacionais e internacionais de soluções baseadas na natureza (SbN) apresentados pelo painel – como a criação de corredores verdes em espaços públicos para a restauração de paisagens degradadas ou a inclusão de plantas com valor paisagístico que auxiliam na purificação do esgoto – são ações que podem proteger, gerenciar e restaurar ecossistemas deteriorados de maneira sustentável e aprimorar sistemas de tratamento de água e esgoto.
O Painel também recomenda o desenvolvimento de capacidades locais para a coleta regular de informações sobre sintomas e riscos relacionados à saúde humana. “Uma abordagem integrativa que inclui a educação sobre o meio ambiente fortalece a inter-relação entre a população local e profissionais de saúde. A participação cívica é essencial para construir paisagens e comunidades mais resilientes e saudáveis”, destaca Yolanda Kakabadse, presidente do Painel do Rio Doce. O Painel considera que as atividades ajudam a aumentar o conhecimento sobre a importância do saneamento e do acesso à água potável nas comunidades.
“Intervenções técnicas e científicas vinculadas a programas de educação e capacitação focados nas interconexões entre a saúde humana e a conservação da natureza, como o monitoramento comunitário de recursos hídricos, têm o potencial de melhorar a prevenção na saúde e as boas práticas na região”, afirma Luiza Alonso, autora principal do estudo e especialista em desenvolvimento social. “É importante garantir que a população disponha dos programas educacionais e serviços públicos necessários para ajudar a identificar a origem de possíveis sintomas”, continua. O Painel do Rio Doce também avaliou os esforços recentes da Fundação Renova para integrar os programas de saúde e manejo de resíduos que resultou no projeto de Gestão Ambiental Integrada para Saúde e Meio Ambiente (GAISMA), o qual considera um mecanismo para colocar em prática as recomendações propostas.