Plantas icônicas da floresta tropical, as palmeiras são cinco vezes mais numerosas em florestas das Américas, como a Amazônia e a Mata Atlântica, do que em florestas semelhantes africanas e asiáticas. Pesquisadores chegaram a esse resultado após realizar um levantamento inédito da quantidade de palmeiras em florestas tropicais ao redor do mundo. O estudo, que contou com a colaboração de mais de 200 pesquisadores de 48 países, incluindo cientistas brasileiros ligados ao Programa Biota/Fapesp, está na edição de 6 de julho da revista “Global Ecology and Biogeography”. A proporção de palmeiras pode ser incluída nos cálculos do potencial de armazenamento de carbono das florestas, e ajuda a estimar a sensibilidade à mudança climática da região.
Para chegar a essas estimativas, os pesquisadores utilizaram os dados de 2.548 parcelas florestais existentes ao redor do mundo, entre elas, as 25 parcelas acompanhadas continuamente desde 2005 na Mata Atlântica paulista pelo Programa Biota/Fapesp. Usadas para entender a dinâmica das florestas a longo prazo, essas parcelas florestais são espaços demarcados capazes de gerar dados para estudos científicos. Na análise dos dados, os pesquisadores compararam o número de palmeiras com a quantidade de outras espécies de árvores presentes nesses espaços.
Identificar quais são as espécies dominantes nas florestas tropicais é essencial para compreender como as florestas funcionam e os possíveis impactos das mudanças climáticas globais. Muitas vezes as florestas tropicais tendem a concentrar poucos grupos de espécies. A biomassa total da floresta amazônica, por exemplo, é distribuída entre menos de 300 espécies de árvores, incluindo várias espécies de palmeiras.
Essa também é a tendência da Mata Atlântica, segundo observa Carlos Joly, pesquisador da Unicamp que coordena o Programa Biota/Fapesp e é um dos autores do estudo. “Na Mata Atlântica de São Paulo, por exemplo, as palmeiras arbóreas como o palmito real podem representar 20% do total de plantas e corresponder a cerca de 5% da biomassa da floresta”. Segundo o estudo, as palmeiras são mais abundantes em áreas mais úmidas, com solos menos férteis e águas subterrâneas mais rasas, o que confirma que essas plantas preferem terrenos com um bom suprimento de água subterrânea. “Na região de São Luiz do Paraitinga, por exemplo, ocorreu uma alta mortalidade das palmeiras em função da grande crise hídrica do estado de São Paulo em 2014-2016”, comenta o pesquisador.