27 de setembro de 2022 Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil
urna eletrônica
Urna eletrônica

Por Philip M. Fearnside

Os dois candidatos que lideram as pesquisas eleitorais para a Presidência da República têm programas e históricos contrastantes com relação ao meio ambiente na Amazônia. O candidato Jair Bolsonaro (PL) considera preocupações ambientais como impedimentos à exploração (predatória) das riquezas da região amazônica e pretende continuar as suas políticas que enfraqueceram o controle ambiental no atual governo. O candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) dá muito mais espaço ao meio ambiente no seu programa de governo e destaca a necessidade de reconstruir os órgãos ambientais que têm sido desmontados desde o início do governo Bolsonaro, como Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e Fundação Nacional do Índio (Funai). Também promete defender terras indígenas e retirar garimpeiros.

Mesmo com estes sinais positivos, há áreas que precisarão de cuidado em um eventual governo Lula. A questão de hidrelétricas na Amazônia tem enormes consequências em potencial, incluindo a remoção das populações nas áreas inundadas e a eliminação dos seus meios de sustento, a devastação da pesca que sustenta as populações ribeirinhos tanto rio abaixo quanto acima das barragens, e a emissão de metano, um poderoso gás de efeito estufa. O histórico dos governos do PT na construção de Santo Antônio, Jirau e Belo Monte é preocupante. Lula tem falado que faria Belo Monte de novo e que a população local foi beneficiada devido aos gastos do projeto na parte social.

Com relação à rodovia BR-319 (Manaus-Porto Velho), que, junto com estradas laterais planejadas, abriria uma enorme área de floresta amazônica à entrada de desmatadores a partir do “arco do desmatamento”, Lula tem dito que o projeto pode ir para frente desde que haja governança. Infelizmente, além do custo astronômico de um programa de governança na escala necessária, as chances são mínimas de realmente alcançar essa transformação na vasta área a ser impactada, dentro do prazo de um mandato presidencial. Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) têm tomado posições semelhantes ao Lula com relação à BR-319. Portanto, será importante ficar atento a como evoluirão as políticas ambientais durante o próximo governo, independentemente de quem ganhe as eleições.

 

Philip M. Fearnside é pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA)

Os artigos de opinião publicados não refletem, necessariamente, a opinião da Agência Bori.

Termos de uso

Todos os artigos de opinião já publicados na área aberta da Bori (e que, portanto, não estão sob embargo) podem ser reproduzidos na íntegra pela imprensa, desde que não sofram alterações de conteúdo e que os nomes e instituições dos autores sejam mencionados.

Ao usar as informações da Bori você concorda com nossos termos de uso.

Publicado na Bori em 27/9/2022, 11:34 – Atualizado em 25/1/2023, 8:54