13 de junho de 2020 Foto: Markus Spiske / Unsplash

Por Marcos Fernandes Gonçalves da Silva

A reação do governo federal diante da pandemia da Covid-19 foi inadequada se olharmos para a comunicação e a coordenação das políticas públicas: demorou e foi ambígua. Farei aqui uma análise das ações do Executivo, do ponto de vista social e econômico, já que as duas coisas correm juntas.

Do ponto de vista social, quem atuou prontamente foi o Congresso, na aprovação da ajuda financeira para os mais pobres, em um valor que não os irrisórios R$ 200 propostos pela Fazenda. Mesmo assim, pouco se fez no sentido de aumentar, na prática, a capilaridade do sistema de proteção social.

Há uma recusa de se reconhecer que a Terra é esférica: são evidências disso algumas declarações simplistas, de certas autoridades da administração direta e indireta, dadas a magnitude da epidemia e de suas consequências, a necessidade de isolamento horizontal e de se ajudar os mais pobres, a economia e as empresas. Contudo, políticas começaram a ser implementadas, como a ajuda para os pequenos e médios negócios e para os de grande porte dos setores mais afetados, notadamente serviços. A Fazenda e o Banco Central mobilizaram-se para tais ações.

O problema central é que estamos em uma economia de guerra e as autoridades deveriam atuar para transformar rapidamente fábricas que fazem roupas e equipamentos em fábricas de utensílios médicos. Não o fazem a contento. Isso é uma metáfora, mas nem tanto, posto que em economias de guerra stricto sensu rapidamente se transformam linhas de produção de bens civis em linhas de bens militares, gerando renda e emprego.

O orçamento de guerra, tímido, foi aprovado. Os estados e municípios perdem receitas de impostos indiretos, na medida em que a economia para de girar. A ideia de um seguro tributário, defendida pelo economista José Roberto Afonso, foi, em parte, aplicada. Por outro lado, não se colocaram propostas como a redução temporária dos salários mais altos dos três poderes. Claro que a massa salarial mais relevante é a dos poderes executivos, mas há também algo de simbólico que poderia vir dos outros poderes.

Agora precisamos discutir as estratégias de continuidade de contenção da pandemia e de reconstrução da economia. O mundo está em recessão e o Brasil, estimativas apontam, caminha para a pior de sua história. O desafio é grande, pois o nível de confiança dos consumidores e das empresas cai sem parar. Quem irá a um shopping center, sairá comprando coisas, frequentará restaurantes e bares ou fará turismo diante da perda de renda, emprego e do medo de repique da epidemia?

Se as ações concentradas em infraestrutura e em algum tipo de investimento público não forem tomadas, corremos o risco de vivenciar uma crise prolongada. Se o governo não for capaz de apresentar um plano de recuperação do investimento e do consumo e, pior, se houver um crescimento ainda maior da epidemia em virtude da irresponsabilidade de algumas autoridades, cairemos no redemoinho da depressão. Falta-nos, contudo, liderança para superar essa situação: no presidencialismo, ela deveria vir do chefe de governo.

 

Sobre esse artigo

Marcos Fernandes Gonçalves da Silva é docente da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV EAESP). Essa análise está na revista “GV Executivo” de junho.

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Publicado na Bori em 13/6/2020, 17:23 – Atualizado em 17/2/2021, 16:56