17 de maio de 2021 Foto: Mufid Majnun / Unsplash

Por Ethel Maciel e Karina Calife

Até o dia 15 de maio de 2021, o Brasil era o país que somava o maior número de mortes maternas pela Covid-19 no mundo. Neste cenário, recebemos atônitas a informação que o Governo Federal recusou várias ofertas de vacinas que teriam feito enorme diferença e salvado muitas vidas. Em janeiro de 2021, após demora considerável, inicia-se a campanha de vacinação. Uma campanha, com duas vacinas com tecnologias, intervalos e eficácia diferentes, feita sem planejamento, sem comunicação oficial e cercada de incertezas sobre os grupos prioritários.

Uma das incertezas tem sido sobre a vacinação em gestantes e puérperas, mulheres que recém pariram. O Ministério da Saúde, em face ao aumento do número de casos graves e óbitos desses grupos, recomendou a sua inclusão no grupo prioritário, acatando uma das pautas de movimentos de mulheres.

Embora os ensaios clínicos mais importantes existentes até o momento, que demonstraram a segurança e eficácia das vacinas para a Covid-19, não tenham incluído gestantes e puérperas, não há razão para pensar que as vacinas não protegerão ou terão efeitos colaterais piores entre as gestantes. Um estudo realizado nos Estados Unidos com cerca de 90 mil mulheres grávidas vacinadas com a Pfizer-BioNTech e com a Moderna não encontrou nenhum efeito adverso grave que apontasse para preocupações relativas à segurança da vacinação em gestantes.

Assim, com base na literatura internacional, parece ser preferível que as vacinas da Pfizer-BioNTech sejam oferecidas prioritariamente às gestantes e puérperas, sempre que disponíveis. O Brasil iniciou o recebimento dessa vacina agora em maio. Alguns estados como Pernambuco, Paraíba e Alagoas já incluíram essa prioridade em seus calendários vacinais. Em caso de indisponibilidade ou impossibilidade por questões logísticas, a alternativa da vacinação com a Coronavac deve ser considerada.

Apesar de orientarmos a priorização dos imunizantes Pfizer e Coronavac para uso em gestantes no Brasil e avaliarmos como correta a suspensão da vacina Oxford/AstraZeneca, diante de um caso de efeito adverso gravíssimo em gestante sendo investigado pela Anvisa, entendemos ser também de extrema importância tranquilizar as mulheres grávidas e puérperas que já tomaram essa vacina.

Os dados em pessoas não grávidas demonstram efeitos colaterais leves e de curta duração, como febre ou dores musculares que duram um ou dois dias. Recentemente, coágulos sanguíneos raros foram relatados após a vacinação com o imunizante da AstraZeneca. Mais de 20 milhões de doses da vacina AstraZeneca foram administradas no Reino Unido em pessoas não grávidas. Entre estes, houve apenas 79 notificações de trombose grave após a vacinação, ou seja, cerca de quatro para cada milhão de doses administradas. Existe, portanto, um risco extremamente baixo de efeitos colaterais graves de coágulos sanguíneos com esta vacina. Apesar de raros, os casos foram graves.

Considerando risco e benefício em uma situação pandêmica e de haver muitos casos de Covid-19 no grupo de gestantes e puérperas, a vacinação oferece mais benefícios do que riscos. Por fim, uma avaliação com o profissional de saúde que acompanha a gestante para uma decisão em conjunto pode trazer mais segurança nesse momento ímpar na vida das mulheres.

 

Sobre as autoras

Ethel Maciel, enfermeira, doutora em Epidemiologia, professora titular da Universidade Federal do Espírito Santo e membro da Rede Brasileira de Mulheres Cientistas (RBMC)

Karina Calife, médica, doutora em Medicina Preventiva, professora da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo e membro da Rede Brasileira de Mulheres Cientistas (RBMC)

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Publicado na Bori em 17/5/2021, 15:36 – Atualizado em 20/5/2021, 13:26