Foto: Compare Fibre / Unsplash
Publicado na Bori em 17/9/2024, 14:46 – Atualizado em 17/9/2024, 14:54

Para marcar os dez anos do Guia Alimentar para a População Brasileira, celebrados neste ano, a Bori e o Nupens/USP (Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde) realizaram, no último dia 11, um encontro exclusivo de especialistas com jornalistas de todo o país. Ao todo, 26 jornalistas de todas as regiões brasileiras participaram da conversa – de veículos como Folha de S. Paulo, UOL, Diário do Nordeste, O Joio e o Trigo, Brasil de Fato e Nós, Mulheres da Periferia.

A Coletiva “10 anos do Guia Alimentar para a População Brasileira: evidências científicas e impacto nas políticas públicas” recebeu as pesquisadoras do Nupens/USP Renata Levy, Kamila Gabe e Ana Paula Bortoletto. A ideia foi debater como a publicação contribuiu para a valorização da comida caseira e natural em nosso dia a dia – dos lares brasileiros à merenda escolar.

Encontros de especialistas com jornalistas como esse são promovidos com frequência pela Bori, que tem como missão tornar o conhecimento científico mais acessível. A proposta é incentivar um debate amigável entre cientistas e jornalistas, sobre temas importantes para a sociedade brasileira, com base em evidências científicas.

 

Mais alimentos naturais e menos ultraprocessados

Renata Levy abriu os trabalhos falando sobre as constatações científicas por trás da classificação de alimentos proposta pelo Guia Alimentar. Ela explicou que nossa alimentação deve ter como base alimentos o mais próximos possíveis de sua forma natural. Já os ultraprocessados, segundo Levy, são produtos que, além de sal, gordura e açúcar, trazem aditivos como aromatizantes e conservantes. Essas formulações não fazem parte da cultura alimentar brasileira e, como a ciência já comprovou, seu consumo aumenta os riscos para mais de 30 doenças, como o diabetes.

Em seguida, Kamila Gabe apresentou o avanço do Guia publicado em 2014 em relação às diretrizes anteriores, baseadas na priorização do consumo de nutrientes. As recomendações do Guia Alimentar fundamentam-se em estratégias para ajudar as pessoas na adesão à alimentação saudável e na diminuição do consumo de ultraprocessados, incentivando a compra em feiras e o preparo caseiro dos alimentos, por exemplo.

Ana Paula Bortoletto fechou as falas apresentando o impacto do Guia Alimentar em políticas públicas. Ela citou, por exemplo, um decreto de 2023 que orienta priorizar a alimentação saudável nas escolas e proteger estudantes da exposição aos ultraprocessados. Entre os desafios futuros, para Bortoletto, está a manutenção das bebidas açucaradas em imposto seletivo previsto pela reforma tributária, atualmente em discussão no Senado. Esse tema merece ser acompanhado de perto pela imprensa, a partir de evidências científicas.

 

Sobre a cobertura da imprensa sobre alimentação

Na parte final, aberta a perguntas dos participantes, os jornalistas questionaram as pesquisadoras sobre sua percepção sobre a cobertura da imprensa acerca da alimentação no Brasil. Levy avaliou que, nos últimos dez anos, a imprensa se habituou ao termo “ultraprocessados”, o que contribui para o conceito ser corretamente compreendido pela sociedade como um todo.

Outra dúvida levantada pelos jornalistas foi sobre o papel do Guia para frear um aumento ainda maior na crescente tendência de consumo de ultraprocessados, verificada no Brasil e no mundo. Bortoletto explicou que não há como atribuir diretamente ao Guia o desempenho, mas ressaltou que ações do Nupens/USP junto a equipes de atendimento à saúde em todo o país também podem ter contribuído para popularizar os ensinamentos da obra.

A Coletiva Bori faz parte das ações da grande área de Sistemas Alimentares da Bori, apoiada pelo Instituto Ibirapitanga. Além dos encontros para jornalistas, a Bori realiza a divulgação à imprensa de pesquisas de cientistas brasileiros sobre alimentação de maneira antecipada e explicada, treinamentos para cientistas da área e oferece aos jornalistas cadastrados um banco de fontes com centenas de especialistas na área de alimentação preparados para atender a imprensa.