Pesquisadores da Unicamp e UFSCar, em parceria com instituições internacionais, acabam de publicar um artigo científico na “Liinc em Revista” sobre comunicados de imprensa na construção de uma base de dados para medir a visibilidade da ciência na sociedade, a partir da Bori, do EurekAlert (EUA) e do Alpha Galileo (Reino Unido).
EurekAlert e Alpha Galileo são serviços de disseminação de pesquisas científicas por meio de press releases que operam há mais de duas décadas. Já a Bori, fortemente inspirada nessas iniciativas, atua há quase cinco anos com a disseminação de estudos de pesquisadores brasileiros acompanhados de textos jornalísticos que podem ser reproduzidos pela imprensa — e já é referência para a imprensa brasileira na disseminação de estudos científicos explicados. Nas três iniciativas, os estudos são disseminados à imprensa antes da sua publicação com embargo jornalístico.
Considerando a relevância de agências de notícia de ciência para a circulação do conhecimento científico na sociedade a partir da imprensa, o trabalho “Comunicado de imprensa como indicador de atenção social qualificada da ciência: a construção de um banco de dados e suas potencialidades” usou extração de dados automatizada (web scraping) e o armazenamento em banco de dados para organizar as informações de páginas da web da Bori, EurekAlert e Alpha Galileo. Segundo os pesquisadores, a estruturação desses dados pode facilitar, no futuro, a realização de estudos científicos para medir e acompanhar as tendências de circulação da produção científica na sociedade, a partir do trabalho dessas agências de notícias.
Ao todo, a Bori tem mais de 3 mil jornalistas cadastrados, de diferentes áreas de cobertura e de veículos de todo o país, que recebem diariamente artigos científicos de pesquisadores brasileiros explicados antes de sua publicação. Segundo o artigo, o Alpha Galileo tem 7 mil jornalistas cadastrados; o número de jornalistas cadastrados no Eurekalert não foi divulgado.
A escolha da Bori como caso de estudo ao lado das agências de notícias de ciência norte-americana e inglesa consolidadas é significativa. A criação Bori foi inspirada na EurekAlert, da AAAS, a associação norte-americana de apoio à ciência — tipo a SBPC (Sociedade Brasileira de Progresso à Ciência) dos Estados Unidos.
Os dois serviços funcionam com o sistema de embargo jornalístico, disponibilizando materiais de apoio à cobertura jornalística sobre determinado estudo. Focada na imprensa brasileira, a Bori se diferencia do EurekAlert por mapear os estudos científicos de cientistas brasileiros em vias de publicação em revistas científicas parceiras e produzir um texto jornalístico sobre o estudo a partir de um modelo próprio — de forma gratuita ao cientista. O Eurekalert é um serviço pago que recebe press release prontos de universidades de diferentes países — e os divulga para a imprensa global cadastrada.
O artigo publicado faz parte do projeto internacional de pesquisa “VOICES: o valor da abertura, inclusão, comunicação e engajamento pela ciência no mundo pós-pandemia”, que envolve pesquisadores brasileiros e do Canadá. No Brasil, o projeto é liderado pela pesquisadora Germana Barata (Labjor-Unicamp) e tem apoio da Fapesp. A pesquisa deve continuar gerando insights sobre a atuação da Bori na circulação do conhecimento científico na sociedade brasileira.