7 de abril de 2020 Salvar link Foto: DANNY G / UNSPLASH
Medicina e Saúde

Highlights

  • Metanálise contempla elementos de atenção psicossocial apontados em estudos sobre Tsunami, Ebola, MERS, H1N1, dentre outros
  • Segundo o autor, o medo, frente a uma pandemia, é negligenciado e gera lacunas nas estratégias de enfrentamento
  • A complexidade do sistema de saúde brasileiro demanda distintas estratégias de informação, suporte ou intervenção

 

O medo pandêmico é negligenciado e gera lacunas nas estratégias de enfrentamento da pandemia da Covid-19, o que aumenta o ônus das doenças associadas. Essa é a principal observação de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em editorial publicado em 3 de abril na revista “Revista Brasileira de Psiquiatria”. O autor principal, Felipe Ornell, psicólogo clínico e doutorando do Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas do Departamento de Psiquiatria e Ciências do Comportamento da UFRGS, inicia sua análise traçando um paralelo entre pandemias e outros eventos, como atentados, acidentes e tragédias.

Para construir um quadro de recomendações, explica Felipe Ornell, seu grupo partiu de uma ampla metanálise de estudos internacionais. O documento traz sugestões de ações governamentais, recomendações individuais, cuidados especiais com grupos de risco e protocolos para hospitais e serviços de referência em saúde.

Dentre as recomendações, estão a necessidade de implantação de equipes multidisciplinares, abertura de canais de informação, disponibilidade de conteúdo psicoeducacional, treinamento dos profissionais de saúde para gerenciamento do estresse, trauma, depressão e comportamento de risco; incentivo à pesquisa científica, acesso à serviços estruturados de saúde mental, assim como limitar a exposição à notícias relacionadas a pandemias, seguir as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e das agências governamentais de saúde, monitorar estados mentais disfóricos como irritabilidade e agressão, não culpar ou discriminar grupos ou indivíduos pelo processo de contaminação, dentre outras medidas, questão disponível na íntegra no editorial.

11 de setembro e Kiss

Segundo ele, após o ataque às torres gêmeas de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos e o incêndio da boate Kiss em Santa Maria (RS), em janeiro de 2013, forças-tarefa de assistência psicológica para vítimas e suas famílias foram rapidamente organizadas. No entanto, explica Ornell, durante as pandemias é comum os profissionais de saúde, cientistas e gerentes se concentrarem predominantemente no patógeno e no risco biológico, em um esforço para entender os mecanismos fisiopatológicos envolvidos e propor medidas para prevenir, conter e tratar a doença.

Segundo Ornell, desde a gripe espanhola, há mais de 100 anos, não havia um evento de tamanha escala mundial como a Covid-19. “Não há na história moderna nenhum evento semelhante que tenha mobilizado governos de dezenas de países de todos os continentes, simultaneamente, em decorrência de um mesmo evento. Para construir a tabela de diretrizes que apresentamos no editorial nós revisamos dezenas de estudos que abordaram o impacto à saúde mental diante de eventos como tsunami, Ebola, MERS, H1N1, dentre outros”, ressalta.

De acordo com o pesquisador, ao implementar suas estratégias, é importante que os gestores de cada país delineiem a partir de elementos regionais, que levem em conta a disponibilidade de equipamentos, recursos humanos, dados epidemiológicos e aspectos sociais, como disponibilidade de saneamento básico. “Não existem protocolos ou diretrizes universais de práticas de apoio psicossocial aplicáveis para todas as emergências e desastres. Possivelmente isso é decorrente dos protocolos serem heterogêneos, desenvolvidos para eventos que acometeram moradores de áreas geográficas mais ou menos específicas, e por isso marcados por particularidades. O que não é o caso de uma pandemia”, explica.

 

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Fonte: Agência Bori

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Publicado na Bori em 7/4/2020, 12:05 – Atualizado em 21/2/2021, 13:36