Um grupo de pesquisadoras da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) publicou na revista “Cadernos de Saúde Pública” na quinta (9), um estudo que associa o comportamento sedentário com histórico de problemas de sono em idosos brasileiros. Partindo da prévia hipótese das sabidas alterações de sono na terceira idade, as estudiosas buscaram entender essa relação e inspirar a proposição de orientações sobre a necessidade de redução do sedentarismo nos idosos.
Para o estudo, foram avaliados dados de 43.554 idosos participantes da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), de 2019. Foram observados aspectos como o tempo assistindo televisão, atividades de lazer (como acesso a dispositivos móveis e computadores) e tempo sedentário total (televisão + lazer). Como resultados, os idosos que relataram permanecer mais de seis horas diárias vendo TV e mais de três horas em comportamento sedentário tiveram mais chances de ter problemas no sono. As autoras observaram que os idosos que passam mais de três horas do dia em comportamento sedentário têm 13% mais chances de ter problemas no sono.
“A questão do comportamento sedentário é uma área relativamente recente de estudos. O prévio interesse em observar os processos da senescência e o crescente aumento do número de idosos na nossa população motivou a realização do nosso trabalho. Com o envelhecimento, é comum a ocorrência de mudanças no padrão de sono, tais como o tempo, o sono fragmentado e a quantidade de sono não REM, fundamental para a restauração física e manutenção da qualidade de vida”, aponta Núbia Carelli, coordenadora do Laboratório de Envelhecimento, Recursos e Reumatologia (LERER) da UFSC e coautora do artigo.
Evidências já demonstram que os problemas de sono estão associados a depressão, declínio cognitivo e aumento do índice de Massa Corporal (IMC). No entanto, as autoras perceberam que, apesar de ainda ser uma característica de atividade sedentária, usar dispositivos móveis ou computadores demonstrou ser menos danoso ao sono dos idosos que o consumo de mídia televisiva. Segundo Núbia, o estudo revelou que o uso de computadores e de smartphones não se mostrou associado ao histórico de problemas no sono.
“Acredita-se que a luz branca das telas de computador compreende toda a gama de luz de comprimento de onda curta (azul) e longa (vermelha), às quais não parecem suprimir a produção de melatonina, se utilizadas durante o dia. No comportamento sedentário de lazer, devido ao uso de dispositivos móveis, deve haver o mesmo gasto energético de exercícios leves, pois o indivíduo pode se mover e se levantar com mais frequência do que quando está assistindo à televisão”, explica.
De acordo com as pesquisadoras, o conhecimento da relação sono e comportamento sedentário entre idosos aponta para a implementação de estratégias para a redução do tempo sedentário. Essa medida é particularmente importante no cenário atual, uma vez que a prevalência de histórico de problemas no sono pode aumentar nos próximos anos devido à pandemia de Covid-19.