27 de junho de 2022 Salvar link Foto: Raquel Portugal / Fiocruz Imagens
Medicina e Saúde

Highlights

  • Estudo da UFPel aponta que, em 2019, apenas 18,8% das pessoas foram orientadas com excelência sobre a doença. Seis anos antes, a taxa era de 25,3% 
  • Pacientes com maior nível socioeconômico foram melhor orientados; maior carência está na região Nordeste
  • Redução de investimentos públicos na saúde e a sobrecarga dos profissionais da área podem explicar redução entre períodos analisados

Enquanto a desigualdade social cresce no Brasil, o cuidado adequado da hipertensão decai: em 2019, apenas 18,8% das pessoas obtiveram orientações de excelência para lidar com a doença, enquanto seis anos antes a taxa, embora também ruim, era de 25,3%. Estes dados são de estudo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), publicado na segunda (27), na Revista Epidemiologia e Serviços de Saúde (RESS).

Foram utilizadas informações das edições de 2013 e 2019 da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), do Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE). Os autores incluíram as respostas ao questionário de pessoas com 18 anos ou mais com o diagnóstico de hipertensão. Assim, foi considerado como cuidado adequado da doença, se os pacientes ouviram algumas recomendações dos médicos e outros profissionais de saúde durante as consultas sobre: manter uma alimentação saudável; manter o peso adequado; ingerir menos sal; praticar atividade física; não fumar; não ingerir bebida alcoólica em excesso e fazer acompanhamento regular. A solicitação de exames – como de urina, sangue, eletrocardiograma e teste de esforço – também foi considerada como um indicador da adequação do cuidado.

Desigualdade social e hipertensão

Ao fazer os recortes sociais, os autores evidenciaram ainda mais a desigualdade. Concluíram que quanto melhor a classificação econômica, melhor cuidado foi dispensado para quem tem hipertensão. Apenas 9% dos pacientes mais pobres da PNS de 2019 receberam cuidados adequados; enquanto entre os de classe social mais alta esse número sobe para 33%. A distribuição geográfica do recebimento de cuidados adequados, nos dois períodos, também foi analisada: Nordeste (20% em 2013 e 13,7% em 2019); Norte (22,5% e 17,4%); Sudeste (27,9% e 20,5%); Sul (22,5% e 19,7%) e Centro-Oeste (27,4% e 24,6%).

Elaine Tomasi, epidemiologista e uma das autoras do artigo, afirma que não há uma única causa que explique esses números. “Estamos falando do tempo pré-pandemia. Então, no macro, identificamos diversas possíveis causas, tais como: a Emenda Constitucional 95 que cortou importantes recursos para o Sistema Único de Saúde e a promulgação da nova versão da Política Nacional de Atenção Básica – responsável por mais de 70% dos atendimentos principalmente para a população mais vulnerável”, informa.

Além disso, ela acredita que o investimento na educação continuada e melhores condições de trabalho para os profissionais de saúde podem aumentar a quantidade de pacientes com hipertensão que recebem cuidados adequados. “Se você fortalece o provimento dos profissionais de saúde, o benefício não é apenas para os hipertensos. Estende a todos os pacientes com doenças crônicas e não crônicas”, recomenda Tomasi.

A pesquisa também analisou aspectos como raça, sexo, idade e se o atendimento foi realizado em serviços públicos ou privados de saúde.  Indivíduos do quintil de melhor nível socioeconômico apresentaram prevalência de cuidado adequado 2,54 vezes maior em 2013, e 3,53 vezes maior em 2019, em relação aos de menor nível socioeconômico.

DOI: https://www.scielo.br/j/ress/a/y7ryL7pFynvc8wKVWbwncHF/?lang=pt

Termos de uso

Todos os releases sobre as pesquisas nacionais já publicados na área aberta da Bori (e que, portanto, não estão sob embargo) podem ser reproduzidos na íntegra pela imprensa, desde que não sofram alterações de conteúdo e que a fonte Agência Bori seja mencionada.

Veja como citar a BORI quando for publicar este artigo:

Fonte: Agência Bori

Ao usar as informações da Bori você concorda com nossos termos de uso.

Publicado na Bori em 27/6/2022, 23:45