12 de março de 2020 Salvar link Foto: ARQUIVO PESSOAL
Medicina e SaúdeSuplementação de atletas é testada em laboratório
Pesquisadora extrai amostras de músculo para análise de beta-alanina no Laboratório de Genética Aplicada ao Exercício e Nutrição, na Escola de Educação Física e Esporte da USP

Highlights

  • O aminoácido β-alanina ajuda na produção da carnosina, substância que atenua a fadiga durante os exercícios físicos
  • Suplementar β-alanina é necessário para os atletas que buscam aumentar a quantidade de carnosina nos músculo
  • Estudo indica que insulina não estimula o transporte de β-alanina no músculo esquelético humano, mostrando assim que a suplementação pode ocorrer fora das refeições

O aminoácido beta-alanina é um suplemento nutricional bastante popular entre atletas e praticantes de exercícios físicos. Seu principal efeito é aumentar dentro dos músculos a quantidade de uma substância denominada carnosina que, durante o exercício, neutraliza os ácidos produzidos pela intensa atividade metabólica, ajudando a manter o equilíbrio do pH muscular e atrasando a fadiga. Estudo realizado por pesquisadores da USP mostra que a insulina (hormônio liberado após as refeições) não aumenta a captação de β-alanina para o músculo. Os resultados também refutaram a ideia de que “quanto mais suplemento melhor”, indicando que é importante seguir a suplementação de forma fracionada para evitar que o excesso seja eliminado. A pesquisa foi publicada no dia 26 de fevereiro na revista “American Journal of Physiology – Cell Physiology“.

O estudo avaliou a captação da β-alanina pelos músculos em duas condições diferentes: com alta insulina (imitando o que ocorre após uma refeição) e com baixa insulina (imitando o que ocorre em jejum). A pesquisa foi realizada em duas etapas: primeiro, 12 homens jovens e saudáveis receberam quantidades supra fisiológicas de β-alanina por via intravenosa (0,11g·kg·min -1 por 2h30min). A infusão de β-alanina ocorreu com ou sem infusão concomitante de insulina. Num segundo estudo, 6 homens jovens e saudáveis ingeriram por via oral doses típicas de β-alanina (10 mg/kg de peso corporal) com ou sem infusão de insulina. Amostras de sangue, músculo e urina foram coletadas para avaliar a concentração de β-alanina.

Suplementação fora das refeições

As doses de β-alanina necessárias para aumentar a carnosina muscular variam entre 3,2 e 6,4 g/dia, quantidade muito maior do que os cerca de 600 mg que um onívoro normalmente obtém pela dieta. Logo, suplementar β-alanina é necessário para aqueles que buscam aumentar a quantidade de carnosina em seus músculos. No entanto, apenas uma pequena fração da β-alanina consumida é convertida em carnosina, não ultrapassando 10%. Uma das hipóteses até então aceitas para potencializar a entrada do aminoácido no músculo era consumi-lo junto a refeições, devido a um suposto efeito estimulador da insulina. Os dados do estudo, no entanto, indicam que a hipótese não é verdadeira, já que a quantidade de beta-alanina que entrou no músculo foi similar entre as condições de hiperinsulinemia e jejum.

Os resultados são importantes para o planejamento dietético de atletas e praticantes de exercício físico que fazem uso da suplementação de beta-alanina para melhorar o desempenho. “A suplementação de  β-alanina para aumentar o conteúdo de carnosina deve ser feita de forma crônica, com aproximadamente 6g/dia fracionados em 4 doses diárias por pelo menos 1 mês”, explica Lívia de Souza Gonçalves, autora da pesquisa. “Os resultados do nosso estudo mostrando que a insulina não é importante para o carregamento de  β-alanina para dentro do músculo tornam o planejamento dietético do atleta mais fácil e prático, sem a necessidade de suplementar as doses diárias com alguma refeição”, diz a pesquisadora. Ainda, os dados reforçam a importância da suplementação fracionada. “Outro achado interessante foi que, quando altas quantidades de β-alanina foram infundidas, aproximadamente 50% da dose administrada foi eliminada na urina”, explica.

Os pesquisadores agora realizam estudos para verificar se outras condições podem estimular e otimizar o transporte de β-alanina para o músculo, como por exemplo, o treinamento. Estudos experimentais (com células) para entender os mecanismos envolvidos na cinética dos transportadores de beta-alanina no músculo esquelético também estão sendo realizados.

Termos de uso

Todos os releases sobre as pesquisas nacionais já publicados na área aberta da Bori (e que, portanto, não estão sob embargo) podem ser reproduzidos na íntegra pela imprensa, desde que não sofram alterações de conteúdo e que a fonte Agência Bori seja mencionada.

Veja como citar a BORI quando for publicar este artigo:

Fonte: Agência Bori

Ao usar as informações da Bori você concorda com nossos termos de uso.

Publicado na Bori em 12/3/2020, 13:43 – Atualizado em 12/12/2023, 8:32