21 de abril de 2023 Salvar link Foto: freepik
Políticas Públicas

Highlights

  • Cinco dos sete estados da região Norte têm políticas de segurança alimentar frágeis   
  • Estados em que a Política de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) se articulavam a mais de um setor têm aparato melhor estruturado
  • O SISAN e a sua política pública passaram por um desmonte no âmbito federal nos últimos anos, e novos investimentos são necessários para sua consolidação e implementação efetiva

Cinco dos sete estados da região Norte estão na lista dos menos estruturados em questões relacionadas à descentralização do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN), segundo análise de agrupamentos com dados referentes aos anos de 2017 e 2018. Amazonas, Acre, Amapá, Roraima e Rondônia se destacaram por destinarem menos recursos e terem a política com menos articulação entre os setores – ao lado de estados como Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e Rio Grande do Norte. Os dados são de uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), publicada na revista “Cadernos de Saúde Pública” na sexta-feira (21).

O estudo analisou a descentralização do SISAN, a partir de dados da Pesquisa de Informações Básicas Estaduais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Mapeamento de Segurança Alimentar e Nutricional (MapaSAN). Ele mostra, por exemplo, como o SISAN foi implementado de diferentes formas nos 26 estados brasileiros. 

Os estados que destinam mais recursos à Política de SAN são aqueles em que contaram com maior número de setores do governo envolvidos, com destaque para as áreas da  saúde e da agricultura. Não foi o que  aconteceu em 16 dos estados brasileiros, que têm somente um setor – o da assistência social – responsável pela descentralização da Política de SAN. Segundo a pesquisadora Milena Corrêa Martins, autora principal do estudo, essa estrutura precisa ser repensada:  “O direito à alimentação não segue uma lógica assistencialista, mas sim de desenvolvimento social e econômico”.

Os pesquisadores elencaram os estados analisados em três grandes grupos de acordo com a estruturação do SISAN e da sua política pública. Estados das macrorregiões Norte e Nordeste se concentraram especialmente nos grupos 1 e 2, com menor Produto Interno Bruto (PIB), porte e densidade populacional, com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) médio, estando relacionados à presença de mais obstáculos na implementação do SISAN.

Essas macrorregiões também foram as mais impactadas no país quando o assunto é a insegurança alimentar. De acordo com dados atuais do Segundo Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, no Norte e no Nordeste, a fome fez parte do dia a dia de 25,7% das famílias na região Norte e de 21% no Nordeste. Sendo a média nacional de aproximadamente 15%.

O estudo ganha relevância diante do aumento da insegurança alimentar e fome no país, considerando que desde 2016 o SISAN passou por um desmonte institucional, intensificado nos anos seguintes. “Em 2019, a partir do antigo Governo Federal, o sistema foi totalmente desmantelado na primeira esfera do governo, que é o nacional. Então precisamos saber como esse desmonte se refletiu nos estados”, aponta Martins.

A pesquisadora ressalta a importância da pesquisa no momento atual, de retomada de estratégias públicas federais  voltadas à área da SAN .  “Os próximos passos da pesquisa podem ser verificar como essas políticas eram antes deste desmantelamento e como está a situação agora, para conseguir avançar na consolidação deste sistema e política nos estados brasileiros.” Para isso, segundo a pesquisadora, seria necessário coletar novos dados sobre o tema, já que os fornecidos pelo IBGE deixaram de ser coletados nos anos anteriores.

“Em um cenário atual onde a fome retorna aos lares brasileiros e há um aumento contínuo de formas inadequadas de alimentação, o fortalecimento de um sistema agroalimentar insustentável e incompatível com a vida e o meio ambiente, defende-se que garantir a manutenção e continuidade da consolidação do SISAN deve ser o caminho prioritário tanto na agenda dos governos”, afirma a pesquisadora.

DOI: https://doi.org/10.1590/0102-311XEN131022

Termos de uso

Todos os releases sobre as pesquisas nacionais já publicados na área aberta da Bori (e que, portanto, não estão sob embargo) podem ser reproduzidos na íntegra pela imprensa, desde que não sofram alterações de conteúdo e que a fonte Agência Bori seja mencionada.

Veja como citar a BORI quando for publicar este artigo:

Fonte: Agência Bori

Ao usar as informações da Bori você concorda com nossos termos de uso.

Publicado na Bori em 21/4/2023, 23:45 – Atualizado em 24/4/2023, 11:01