Entre crianças e adolescentes com tuberculose no estado de São Paulo, os jovens na faixa entre 11 e 18 anos são os que mais deixam de concluir o tratamento, segundo uma nova pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), publicada na revista “Cadernos de Saúde Pública” na quarta (11). O levantamento inédito apontou que adolescentes pretos e pardos e aqueles privados de liberdade são os que mais abandonam os procedimentos que podem curar a doença.
De acordo com o artigo, usuários de substâncias psicoativas, pessoas vivendo com HIV/Aids e/ou com histórico de tratamentos anteriores para tuberculose também apresentam maiores riscos de abandono. Um dos fatores de proteção identificado pelo grupo foi residir em municípios não metropolitanos.
O estudo usou dados do período entre 2009 e 2019 do Sistema de Controle de Pacientes com Tuberculose do Estado de São Paulo, chamado de Tbweb, gerido pelo Centro de Vigilância Epidemiológica “Professor Alexandre Vranjac”, da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. O artigo é um recorte do trabalho de conclusão do curso de farmácia da enfermeira Mariana Pereira da Soledade, na Unifesp. Em sua pesquisa, ela buscou traçar o perfil epidemiológico dos pacientes pediátricos com tuberculose no estado paulista. A amostra foi de 12.256 casos analisados, com 941 casos de abandono do tratamento.
“O tratamento da tuberculose depende muito do vínculo do profissional com o paciente”, afirma Soledade. A depender do estado clínico do paciente, o tratamento, feito com o uso de medicamentos, pode passar dos seis meses. “Em cidades menores, apesar de haver menor oferta de serviços de saúde, os profissionais conseguem ir atrás dos pacientes e garantem que eles concluam o tratamento”, diz.
Segundo a enfermeira, há poucas pesquisas sobre pacientes pediátricos com tuberculose, apesar de ser um público bastante atingido pela doença. A OMS estima que 10,6 milhões de pessoas desenvolveram tuberculose em 2022 — e 1,3 milhão delas, ou seja, 12%, eram crianças menores de 15 anos. Cerca de 16% destes casos pediátricos terminaram em óbito, de acordo com os dados.
Para a pesquisadora, os dados servem como termômetro para avaliar a epidemia de tuberculose também em adultos. “Quando se tem uma criança doente com tuberculose, isso significa que existem adultos que estão ao redor dela transmitindo a micobactéria, então quanto mais crianças infectadas, mais adultos também”, avalia.
As informações da pesquisa podem servir para ajudar a pensar em estratégias de comunicação sobre o tratamento de tuberculose, especialmente entre crianças e adolescentes e seus responsáveis. “Nós não avaliamos as razões para o abandono, mas acreditamos que tenha relação com o comportamento dos adolescentes e suas condições sociodemográficas”, comenta Soledade. Ela acredita que um estudo que investigue os motivos de abandono de tratamento poderia ser útil para ajudar gestores a mitigar o problema.