23 de fevereiro de 2024 Salvar link Foto: Pixabay / Pexels
Saúde
Estudo investigou a transmissão de vírus da fêmea do Aedes para o ovo em amostras coletadas na cidade de Goiânia

Highlights

  • Pesquisa investigou transmissão de vírus de mosquitos para ovos em amostra coletada em Goiânia
  • Testes de PCR comprovaram ocorrência de transmissão vertical dos vírus em reservatórios
  • Tipo de transmissão pode fazer a zika e a chikungunya se espalharem mais rápido na população

Pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG) encontraram indícios de vírus da zika e chikungunya em ovos de Aedes aegypti coletados em Goiânia. Mosquitos que nasceram desses ovos já estavam infectados antes mesmo de picar humanos, o que indica que houve transmissão vertical entre fêmea e larvas. Os resultados estão descritos em artigo científico publicado na sexta (23) na “Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical”.

A chamada transmissão vertical acontece quando os vírus passam de mosquito fêmea para os ovos e pode fazer com que a doença seja transmitida para humanos de forma mais rápida. “Em vez de ser apenas hospedeiro, nestes casos o mosquito carrega o vírus desde o nascimento”, explica o pesquisador da UFG e autor do estudo Diego Michel. O último relato de transmissão vertical foi detectado em 2017 em Goiânia, em outras regiões da cidade.

Para confirmar a presença da transmissão vertical nos insetos, os pesquisadores criaram mosquitos em laboratório a partir de ovos coletados com armadilhas em Goiânia fornecidos pela vigilância sanitária do município. Um total de 1570 fêmeas foram desenvolvidas de forma controlada em 157 reservatórios. Foram realizados testes, como o PCR (Reação em Cadeia da Polimerase), para identificar a presença dos vírus da dengue, chikungunya e zika. Dois reservatórios, ou seja, 20 mosquitos testaram positivo para o vírus da chikungunya e um para o vírus da zika.

Ainda que a detecção dos vírus seja baixa, o fato de identificar essa quantidade de mosquitos pode contribuir para a persistência desses agentes em ambientes urbanos. Por isso, para Michel, o resultado serve de alerta para as autoridades de saúde pública de Goiânia. “O mosquito potencialmente infectado antes mesmo de picar uma pessoa contaminada pula uma etapa da transmissão e a doença se espalha ainda mais rápido”, afirma.

Em 2021, ano do experimento, um caso de zika e 141 casos de chikungunya foram notificados em Goiânia, mas o pesquisador acredita que houve subnotificação dessas doenças por conta da pandemia. “Os números podem ser bem mais altos, porque encontramos a transmissão vertical naquele mesmo ano”, aponta. Em 2022, a capital goiana registrou 1462 casos de chikungunya e um de zika. Já em 2023, foram 510 de chikungunya e dois de zika. O pesquisador lembra que “os ovos já infectados do Aedes podem ficar até um ano sem eclodir, esperando a água”.

“Os resultados são também um alerta para as autoridades de saúde, já que estas doenças ainda são subnotificadas e o seu principal vetor urbano muito provavelmente foi se adaptando biologicamente”, explica Michel.

O esforço de identificar a transmissão vertical entre mosquitos surgiu após a publicação de outro estudo do mesmo grupo de pesquisa que apontou esse mecanismo de transmissão do vírus Mayaro entre indivíduos de Aedes aegypti em Goiânia. O ciclo epidemiológico do vírus Mayaro também se dá com a participação de mosquitos silvestres, com hábitos diurnos. Agora, o grupo está trabalhando no desenvolvimento de técnicas para diagnóstico de doenças causadas por vírus transmitidos principalmente por mosquitos, por meio de testes rápidos.

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Fonte: Agência Bori

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Publicado na Bori em 23/2/2024, 23:45 – Atualizado em 21/3/2024, 14:51