Uma iniciativa de restauração de áreas de mangue na Grande Florianópolis mostra que ações de educação ambiental são aliadas para a recuperação de ambientes degradados. Com a participação da comunidade local, a equipe do Projeto Raízes da Cooperação retirou cerca de 7 mil pinheiros invasores, introduzidos na região para produção de madeira. A área abrangida é equivalente a quase 8 hectares. Os participantes também plantaram mais de 3 mil mudas nativas de mangue e restinga.
O estudo de caso está incluído na versão brasileira do ebook “Reabilitação Ecológica de Manguezais: Um Guia Prático de Campo”, lançada nesta quarta (25), pelo Raízes da Cooperação, projeto executado pela Ação Nascente Maquiné (Anama) na Grande Florianópolis que tem entre parceiros instituições como a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e a Petrobras. A obra é um dos principais manuais para a restauração de manguezais no mundo.
A intervenção relatada no livro consiste em quatro pilares: derrubada e manejo de Pinus elliottii, plantação de mudas de espécies nativas, educação e mobilização da população que vive no entorno dos mangues e pesquisas sobre a resiliência climática desses ecossistemas. De acordo com Dilton de Castro, ecólogo e coordenador do Raízes da Cooperação, até agora, mais de 2 mil pessoas das comunidades e escolas locais participaram de uma série de atividades como oficinas, cursos e seminários.
Para ele, a adesão das comunidades locais tem sido essencial para o projeto. “Havia lugares que só eram acessíveis de barco, e nisso os pescadores ajudaram muito. As comunidades auxiliam no plantio de mudas, identificação e levantamento de espécies nativas”, observa.
O Raízes da Cooperação atua desde maio de 2023, através de pesquisas científicas e de ações de restauração ecológica, em três Unidades de Conservação: o Parque Estadual da Serra do Tabuleiro e as federais Reserva Extrativista do Pirajubaé e Estação Ecológica Carijós. Os mangues da região são estratégicos para a mitigação de eventos climáticos extremos e a sobrevivência de comunidades tradicionais. Na Grande Florianópolis, esses ecossistemas funcionam como barreiras naturais contra a erosão costeira, enchentes e ciclones. Também abrigam importantes fontes de sustento para pescadores artesanais e povos indígenas.
Em pouco mais de um ano de projeto, segundo o livro, os resultados mais notáveis são o aumento da biodiversidade e a recuperação natural de áreas degradadas, com novas espécies de plantas nativas emergindo nas áreas restauradas. “Observamos o crescimento de sementes que estavam dormentes no solo pela falta de luz, que era bloqueada pelos pinheiros invasores”, exemplifica De Castro. “Mas o envolvimento da sociedade é o que dura. Sensibilizar a população significa mais influência para a proteção desses ecossistemas, podendo encaminhar para impactos em políticas públicas de proteção e conservação”.
O lançamento do ebook consolida o papel da iniciativa brasileira como um modelo a ser seguido, aponta Paulo Pagliosa, professor de Oceanografia da UFSC e tradutor da obra. “O registro deixa uma forte evidência que uma restauração ecológica efetiva só é atingida quando ela tem base comunitária, quando a comunidade entende da importância e deseja que o manguezal seja restabelecido”, finaliza.