28 de junho de 2024 Salvar link Foto: Pedro Fritsch / Unsplash
OceanografiaLitoral de Santa Catarina,: vista aérea de Florianópolis
Região central da costa de SC, onde se localiza a capital Florianópolis, tem ocupação urbana densa e pode sofrer com chuva excessiva

Highlights

  • A potencial elevação do nível do mar na costa catarinense pode agravar a erosão em praias e causar a perda de biodiversidade em ecossistemas costeiros
  • Setor vital da economia catarinense, a pesca pode ter menos produtividade diante da movimentação de espécies pelo aumento da temperatura da água
  • O direcionamento ainda tímido das pesquisas à compreensão sobre o impacto regional das mudanças climáticas dificulta adaptação a danos desconhecidos

O estado de Santa Catarina conta com uma população concentrada em regiões costeiras. A ligação com o mar se reflete na organização do espaço, na cultura local e na economia, em grande parte baseada na pesca e no turismo. Porém, o litoral catarinense está cada vez mais exposto a eventos como inundações e ao aumento do nível do mar por conta das mudanças climáticas. Segundo pesquisadores da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), esses eventos podem provocar perdas humanas, econômicas e de biodiversidade com proporções ainda desconhecidas. A constatação está em artigo publicado na revista “Brazilian Journal of Aquatic Science and Technology” nesta sexta (28).

O oceanógrafo José Angel Perez, pesquisador da Univali e autor do artigo, destaca a hipótese de que a zona costeira catarinense seja uma das regiões brasileiras que mais possa estar mudando com relação à temperatura e características ambientais.

Através de revisão de literatura, o artigo diagnostica que, na região central da costa de Santa Catarina, onde está localizada a capital Florianópolis e há uma ocupação urbana densa, pode haver ocorrência de desastres naturais devido à chuva excessiva, como enxurradas e inundações. Esses eventos podem ser mais frequentes e mais danosos. No litoral centro-norte, as cheias podem ser mais preocupantes devido às características geográficas de ambientes fluviais e estuários, que também são altamente urbanizados. A qualidade da água doce e marinha rasa e o potencial de fornecimento de água potável também estarão em risco por conta da exposição dos mananciais às alterações decorrentes das mudanças climáticas.

“Nem todo resultado das mudanças climáticas é um evento extremo como a gente está vendo no Rio Grande do Sul. Grande parte dos efeitos mais dramáticos não acontecem de uma hora para outra, mas sim lentamente”, afirma Perez. É o que ocorre, por exemplo, com a pesca, como mostra o trabalho. Mudanças na temperatura afetam a produtividade biológica dos oceanos e a transferência de energia através das cadeias alimentares, diminuindo a produtividade pesqueira.

O fenômeno provoca, por exemplo, o deslocamento de espécies de peixes de águas mais quentes para regiões ao sul, além da diminuição de espécies de água fria. Isso impacta diretamente a pesca de espécies de grande valor econômico, cada vez menos disponíveis, como a castanha (Umbrina canosai), a merluza (Merluccius hubsi) e o peixe sapo (Lophius gastrophysus).

O setor do turismo, segundo analisa o estudo, também deve ficar mais suscetível a eventos extremos, como furacões, tempestades e alagamentos. Esses eventos têm potencial para não apenas destruir propriedades, mas também de afetar a topografia das praias e a vegetação de dunas, essenciais para a proteção costeira.

Além disso, o trabalho aponta que a poluição dos corpos d’água pelas enchentes favorece a proliferação de algas e outros microrganismos, alguns potencialmente tóxicos, provocando fenômenos como a maré vermelha. Tudo isso compromete a balneabilidade das praias e a saúde dos ecossistemas marinhos, que deterioram a qualidade da água e afetam diretamente as atividades turísticas e de lazer.

Diante desses problemas, Perez ressalta a necessidade de mais esforços de pesquisa para que seja possível entender e gerar estratégias de adaptação efetivas. A ciência precisa, por exemplo, monitorar processos que já vêm ocorrendo há algum tempo. “Os impactos permanentes podem estar acontecendo lentamente – a pesca, por exemplo, tem diminuído desde 2012. Sem que a ciência olhe para eles, eles ficam fora do radar até que seja tarde demais para evitar”, finaliza.

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Fonte: Agência Bori

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Publicado na Bori em 28/6/2024, 23:45