O número de acidentes de trabalho em atividades do agronegócio diminuiu em uma década, no Mato Grosso, estado que lidera esse ranking. De 2008 a 2017, a incidência dos acidentes passou de 29 para 18 por mil trabalhadores, enquanto que a mortalidade caiu de 28 para 13 óbitos por 100 mil habitantes. Essa diminuição pode ser resultado de sub-registros ou, mesmo, reflexo da modernização da agricultura, mostra um estudo da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), publicado na sexta (16) na Revista Brasileira de Saúde Ocupacional.
Segundo a pesquisa, os municípios com produção agropecuária expressiva registraram as taxas de acidentes de trabalho mais altas em dez anos no Mato Grosso — caso de Paranatinga, Barra do Garças, Alta Floresta e Sorriso. E cerca de 58% desses incidentes são relacionados à cadeia produtiva do agronegócio, com concentração de 30% dos casos na fabricação de produtos de carne, nos frigoríficos, e na agricultura.
Para chegar a esse panorama, os pesquisadores analisaram dados de acidentes de trabalho notificados e de produção agropecuária do estado de Mato Grosso em um período de dez anos (2008-2017), analisando taxas de incidência, mortalidade, letalidade desses eventos, registros de intoxicação por agrotóxico ou acidentes por animais peçonhentos, por exemplo. A análise também usou dados de volume por hectare e por tonelada de produção agrícola, pecuária e florestal, a partir de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e outras plataformas municipais que registram esse tipo de produção.
De acordo com a pesquisadora Nara Regina Fava, autora do artigo, da UFMT, a queda na incidência de acidentes de trabalho nos anos analisados está de acordo com o que antecipavam. “Outros estudos também confirmam estes resultados. Eles podem ser reflexo de sub-registros, inclusive de acidentes leves, ou ainda da modernização da agricultura com o uso de máquinas e equipamentos, que ocasionou redução da mão de obra braçal”, afirma. Mas, ainda assim, o Mato Grosso foi o estado brasileiro com maior mortalidade por acidentes de trabalho no período.
Ao revelar setores com maior número de acidentes de trabalho, Fava pontua que o estudo pode ajudar gestores públicos a elaborar ações de promoção e prevenção de saúde para trabalhadores do Mato Grosso. Em 2018, o estado era responsável por mais de 50% de toda a contribuição do agronegócio para o PIB do país, segundo dados do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária.
Além de continuar estudando o tema, os pesquisadores pretendem articular estratégias para minimizar riscos de acidentes de trabalho, com o Centro de Referência em Saúde do Trabalhador Estadual, e para aumentar a fiscalização dos casos, com auditores fiscais do Ministério do Trabalho.