31 de outubro de 2024 Foto: Pixabay
Medicina e Saúde

Highlights

  • Pesquisa da UnB mostra que, dos 188 medicamentos isentos de prescrição analisados, 95% não tem informações confiáveis sobre uso por gestantes
  • 67% deles não devem ser oferecidos para crianças menores de 6 anos de idade
  • Quatro em cada dez remédios podem ter base em ensaios clínicos com limitações como amostras pequenas ou falhas metodológicas

Entre quase duas centenas de remédios disponíveis em farmácias para serem adquiridos sem necessidade de prescrição médica, cerca de 55% possuem força de recomendação fraca – ou seja, o balanço entre riscos e benefícios não é óbvio e o uso deveria ser analisado caso a caso. Além disso, 67% desses medicamentos não podem ser ministrados para crianças menores de 6 anos. Os achados são de cientistas da Universidade de Brasília (UnB) e estão publicadas em artigo no periódico “Saúde em Debate” nesta quinta (31).

Além da força de recomendação, um segundo aspecto foi analisado: o chamado nível de evidência, que é tão maior quanto o número de ensaios clínicos bem conduzidos e que respaldem o uso. Dos medicamentos, 39% têm evidência baixa, muito baixa ou ausente, o que significa que podem ter base em ensaios clínicos com um pequeno número de pacientes e/ou com falhas metodológicas que causam interpretação incorreta das evidências.

Por fim, outro aspecto avaliado foi o grau de risco para a população. Cerca de 95% dos remédios não possuem informações confiáveis de segurança para gestantes, e 87% não possuem informações sobre o uso durante a lactação. Entre 112 fármacos classificados para uso durante a gravidez, 55% apresentaram evidências de que podem trazer algum risco ao feto. Quatro em cada dez não possuem evidência de segurança durante a gestação e apenas 3% dos analisados foram considerados, de fato, seguros para uso no período. Apenas cinco medicamentos oferecem risco fetal mínimo.

Outro problema observado pelos pesquisadores é o uso pediátrico dessas drogas. “Muitos são utilizados por crianças, mas muitas pesquisas apresentam barreiras de dilema ético, nas quais as evidências de eficácia e segurança são baseadas em pesquisas que envolvem adultos, e adaptam esses resultados, como ajuste de dose de acordo com o peso”, afirma a pesquisadora da UnB Nara Laismann, autora principal do estudo. Entre os medicamentos mais populares nas farmácias, o paracetamol é um dos que mais chamou atenção dos pesquisadores. Muitas pessoas fazem uso indiscriminado dele, o que pode causar riscos de toxicidade, alerta a cientista. Há risco de insuficiência hepática e morte.

Os medicamentos isentos de prescrição são classificados dessa forma pela Instrução Normativa n° 120 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), de 2022. Ao todo, foram considerados na análise 188 fármacos, em 376 apresentações, como comprimidos e xaropes.

Durante a pesquisa, Laismann e seus colegas encontraram estudos com casos de pacientes admitidos em hospitais após reações adversas causadas por medicamentos isentos de prescrição. Para ela, é importante que a pesquisa conscientize sobre a prática da saúde baseada em evidências, especialmente entre profissionais da área farmacêutica. “São profissionais de saúde muito capacitados e que podem promover o autocuidado apoiado, ajudando o paciente na automedicação guiada”, diz a pesquisadora. “A automedicação é uma prática comum, mas que pode ser perigosa e trazer vários problemas, pois pode mascarar doenças e trazer algum potencial de interação medicamentosa. Ou ainda o medicamento pode não ser o melhor para aquele paciente”, diz.

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Fonte: Agência Bori

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Publicado na Bori em 31/10/2024, 23:45