Países de baixa e média renda, ou seja, com menor Produto Interno Bruto (PIB) per capita, investem mais em promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno. Além de uma legislação mais robusta contra a influência das indústrias de fórmulas infantis, essas nações contam com uma maior circulação de informações sobre a amamentação, sistemas de monitoramento e avaliação de indicadores e políticas direcionadas a emergências e desastres. As conclusões são de pesquisadoras da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e estão em artigo publicado na revista “Cadernos de Saúde Pública” nesta quinta (31).
As pesquisadoras verificaram a existência de associação entre as políticas e programas de amamentação nacionais que estão registrados na ferramenta Iniciativa Mundial sobre Tendências do Aleitamento Materno (World Breastfeeding Trends Initiative, ou WBTi, na sigla em inglês), com o PIB per capita na modalidade Paridade do Poder de Compra, obtido a partir de dados do Banco Mundial. Entre os 98 países analisados, somente 14 atingiram uma pontuação acima de 70 — indicativas de maiores avanços relativos às políticas e programas pró-aleitamento materno.
A classificação gerada pela ferramenta variou de 87,5 pontos em Cuba – o melhor desempenho – a 19 pontos na Líbia. Os outros países com pontuação acima de 70 foram Turquia (80), Quênia (77), Niger (77), Costa Rica (76) e Bahrein, o único de alta renda, com pontuação de 74,5. Por outro lado, destaca o estudo, os países de alta renda concentram maiores direitos associados à maternidade, como licença-maternidade remunerada e intervalos e acomodações no local de trabalho para amamentação.
A pontuação do Brasil é de 70 pontos. O país é o 18º no ranking, posição que a pesquisadora da UFU Ana Elisa Madalena Rinaldi identifica como satisfatória. “Temos uma política bem avaliada na proteção das famílias e crianças contra o marketing abusivo das indústrias de fórmulas infantis”, explica. “Também temos mais de 300 hospitais Amigos da Criança, que cumprem critérios de incentivo ao aleitamento materno. Um quarto de todos os nascimentos no Brasil acontecem nestes hospitais”, detalha a pesquisadora.
A cientista identifica pontos a melhorar no país, como a sistematização de serviços de aconselhamento em amamentação, sistemas de monitoramento e avaliação de indicadores de aleitamento materno. É necessário, ainda, aprimorar a disseminação de informações úteis acerca do tema e o investimento em programas específicos para situações de desastres ambientais e emergências. “As políticas e os programas que promovem, protegem e apoiam o aleitamento materno são fundamentais para criar um ambiente propício para que as mães amamentam, tanto no hospital imediatamente após o nascimento, quanto nos serviços de saúde, no ambiente de trabalho e em situações de emergência”, conclui Rinaldi.