15 de julho de 2022 Salvar link Foto: Arthur Chapman / Flickr
Amazônia

Highlights

  • Pesquisadores analisaram mapas de ocorrência da espécie conhecida como avoante ou pomba-campestre e de desmatamento da Amazônia no período de 38 anos
  • Ao todo, foram identificados 804 registros da espécie Zenaida auriculata na Amazônia brasileira, sendo 32,2% desses registros em áreas onde a espécie não era conhecida
  • A espécie coloniza áreas onde há boa quantidade de grãos, como lavouras e campos de agricultura, que crescem na Amazônia com o avanço do desmatamento

De importância estratégica para a cadeia ecológica e de grande sensibilidade às mudanças ambientais, as aves podem ser eficazes em estudos para entender a qualidade ambiental de uma região. Uma pesquisa da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) e da empresa CMData publicada na revista “Acta Amazonica” nesta sexta (15) alerta para uma possível relação entre o aumento na distribuição da espécie Zenaida auriculata, ou pomba-campestre, na Amazônia e o avanço do desmatamento.

Dos 804 registros de presença da ave no bioma entre 1982 e 2020, 32,2% ocorreram em pontos onde a espécie não era encontrada anteriormente. A análise revelou a ocorrência dessa ave em áreas desmatadas, principalmente nos últimos seis anos do levantamento (2014 – 2020).

Conhecida como avoante, pomba-campestre ou pomba-orelhuda, essa ave tem uma baixa sensibilidade às mudanças ambientais e costuma viver em áreas abertas, sendo encontrada em todos os biomas brasileiros, apesar de não ser típica da Amazônia. Com fácil adaptabilidade a locais que foram modificados por ação humana, a Zenaida auriculata alimenta-se basicamente de grãos. Estudos anteriores revelam que sua presença tem sido fortemente associada a locais onde existem lavouras, mas a espécie também é recorrente em áreas urbanas.

Os pesquisadores basearam-se em dados de ciência cidadã para verificar a ocorrência dessa ave na região da Amazônia brasileira. Para isso, buscaram em plataformas digitais, como WikiAves, registros da espécie entre os anos de 1982 e 2020, além dos registros da expansão territorial de Zenaida auriculata. Os cientistas também coletaram informações de áreas que vêm sendo desmatadas na região Norte, a fim de relacionar com os pontos de registro da espécie.

“A avoante pode se beneficiar de culturas agrícolas, como soja, milho e trigo, uma vez que sua dieta inclui esses tipos de grãos. Esta pode ser uma das razões pela qual as populações dessa ave estão se dispersando para áreas desmatadas, em grande parte sendo ocupadas por tais culturas”, explica Alexandre Gabriel Franchin, um dos pesquisadores do estudo. Segundo ele, o sucesso da espécie em colonizar novas áreas pode se dar por causa do desmatamento no bioma amazônico, que transforma áreas florestais em campos abertos — similares ao hábitat preferido da ave.

O pesquisador Gabriel Magalhães Tavares, que também assina o estudo, destaca que a Zenaida auriculata se adapta bem a ambiente urbano e paisagens agrícolas: dois cenários relacionados ao desmatamento. “Isso pode explicar como ela vem expandindo sua distribuição e colonizando diferentes áreas da Amazônia, dadas as drásticas mudanças que ocorreram neste bioma”. Ele também chama a atenção para a importância de seguir monitorando a distribuição da espécie para que se possa descobrir se ela vai se estabelecer definitivamente em áreas desmatadas da região Norte.

DOI: https://doi.org/10.1590/1809-4392202102711

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Fonte: Agência Bori

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Publicado na Bori em 15/7/2022, 23:45 – Atualizado em 7/8/2024, 16:02