Por Gabriela Brandão
A ciência sempre pareceu um assunto remoto e inacessível para muitos, mas ela é indispensável para a sociedade e vice-versa; uma não pode ser plenamente realizada sem a outra. Ao longo da pandemia de Covid-19, diversos foram os esforços para que a informação científica chegasse à sociedade. Em comunidades periféricas como o Complexo da Maré, as organizações da sociedade civil foram fundamentais para que a população passasse por esse momento difícil, criando diversos projetos que buscaram assegurar formas de sobreviver à emergência de saúde.
A Redes da Maré, uma organização da sociedade civil, se destacou por fechar parcerias para realizar a vacinação em massa no Complexo da Maré, contribuindo para um estudo inédito sobre os efeitos da vacinação em massa e da Covid longa na comunidade (Pesquisa Vacina Maré). Com mais de 140 mil moradores e localizada estrategicamente próxima à Fiocruz e à UFRJ, a comunidade se torna um local ideal para pesquisas. Apesar da circulação de desinformações sobre vacinas, os moradores enxergam o impacto direto das descobertas científicas na saúde, bem-estar e progresso local. A divulgação científica e a comunicação comunitária são fundamentais na formação dessa percepção positiva.
A divulgação científica garante que os dados obtidos pela ciência sejam acessados pela sociedade. Nas favelas e comunidades periféricas, a comunicação comunitária é estratégica para que essas informações não só cheguem, mas sejam compreendidas pela população. Por meio de canais acessíveis e confiáveis, como jornais comunitários e dispositivos sonoros nas ruas, é possível disseminar amplamente informações essenciais sobre saúde e ciência.
Essa abordagem não apenas fornece conhecimento sobre questões de saúde, mas também constrói confiança e engajamento entre os moradores, promovendo uma participação significativa em pesquisas e ações de saúde pública e garantindo o direito à informação e comunicação em saúde para essa população. Assim, a aceitação da ciência no Complexo da Maré se deu, principalmente, através da comunicação comunitária.
Para garantir canais de comunicação eficazes e justos, devem ser feitos investimentos em programas destinados a estreitar os laços entre o mundo da ciência e as pessoas (como o caso do Conexão Saúde: de olho na Covid!). Durante este processo, grupos da sociedade civil, movimentos sociais e autoridades comunitárias trabalham como mediadores entre a ciência e as comunidades, desenvolvendo uma cultura científica acessível e participativa. Isso nos mostra, também, o quanto a divulgação científica pode e deve aprender com a comunicação comunitária.
E como nós, indivíduos de uma comunidade, podemos auxiliar nesse movimento? Apoiando iniciativas locais e reconhecendo a importância de se envolver ativamente na promoção de uma cultura científica acessível e participativa em nossa própria comunidade. Ainda, através do compartilhamento de informações confiáveis com amigos e familiares, indicando esses coletivos e organizações como a Redes da Maré como fonte segura de informação. Juntos podemos construir uma sociedade mais bem informada, engajada e resiliente diante dos desafios da atualidade.
Sobre a Autora
Gabriela Brandão é bióloga e mestra em informação e comunicação em saúde pelo PPGICS – Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (ICICT/Fiocruz)
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