Pesquisadores do Instituto de Botânica de São Paulo identificaram que duas espécies de árvores nativas da Mata Atlântica, a pitangueira e a aroeira, têm a capacidade de acumular em sua estrutura o cobre depositado no solo em altas concentrações. O achado pode contribuir para o uso das plantas no monitoramento da contaminação do ambiente pelo minério. Os dados foram publicados em janeiro na revista “Floresta e Ambiente”.
Isso porque o cobre, apesar de ser um micronutriente essencial para a vegetação quando ocorre naturalmente no solo, pode prejudicar todos os componentes do ambiente se depositado em altas concentrações, representando risco à vida local. “A contaminação do solo em áreas adjacentes às operações de mineração ampliam o potencial de toxicidade do cobre e trazem problemas a algumas regiões. Solos em áreas urbanas também podem conter concentrações altas e nocivas do elemento por atividades antropogênicas, como as emissões das indústrias e do tráfego de veículos”, conta Armando Reis Tavares, do Instituto de Botânica da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, coordenador da pesquisa.
Para avaliar a capacidade de contenção do cobre pelas árvores, os pesquisadores transplantaram amostras obtidas do ambiente para vasos e, no laboratório, contaminaram o solo com diferentes concentrações do mineral em soluções nutritivas, produzidas com substâncias das quais as plantas se alimentam naturalmente. Após o período de absorção, foram analisados o teor de cobre em cada estrutura da planta, comparado à sua biomassa.
Os exemplares de pitangueira e aroeira apresentaram respostas fisiológicas diferentes ao cobre. Enquanto a aroeira acumulou o metal apenas nas raízes, a pitangueira o distribuiu pela raiz e folhas. “Por conta da facilidade com que se poderia coletar folhas de pitanga no ambiente para análise em laboratório, a árvore pode ser utilizada no biomonitoramento da contaminação do solo por cobre – ou seja, uma espécie de sensor natural da presença excessiva de um metal pesado na natureza. Isso pode levar a intervenções para descontaminação do solo”, acredita Tavares.
Impacto do cobre
Considerado uma grande fonte de contaminação no solo e de difícil degradação, o cobre é classificado como pesado quando fica mais denso devido ao agrupamento intenso de seus átomos. A poluição por metais pesados é um problema global e provoca perdas na produtividade agrícola e riscos à biodiversidade e aos humanos.
Para o pesquisador, o estudo contribui para a ampliação do rol de espécies de árvores já conhecidas como indicadoras de poluentes na natureza. “O uso dessas espécies para esse propósito pode trazer uma economia importante em tecnologias mais sofisticadas, uma vez que a própria planta dispõe de recursos para nos ‘dizer’ o que está havendo com o solo”, defende. Além disso, sabe-se mais agora sobre a fisiologia de plantas que, a exemplo da aroeira, defendem boa parte de sua estrutura da contaminação ao concentrar o metal pesado apenas na raiz. “Isso pode levar a estratégias de transgenia para preservação de outras espécies, que acabam sendo contaminadas da raiz às folhas e tendo todo o seu metabolismo prejudicado”, avalia.