Foto: Naiara Demarco / Capes
Mesa de debate no evento comemorativo dos 23 anos dos Periódicos Capes, da qual a Bori participou com a Elsevier e a Clarivate
Mesa de debate no evento comemorativo dos 23 anos dos Periódicos Capes, da qual a Bori participou com a Elsevier e a Clarivate
Publicado na Bori em 8/12/2023, 15:57 – Atualizado em 12/12/2023, 16:52

Por Sabine Righetti* 

Já pensou se os cientistas fossem avaliados nos concursos públicos, nas progressões de carreira e nos pedidos de apoio para suas pesquisas nas agências de fomento à ciência a partir da conexão que estabelecem com a sociedade? Falei sobre isso nesta semana em evento na Capes, instituição do MEC responsável pela qualidade de todos os quase 5 mil programas de pós-graduação do país. E a boa notícia é que a Capes está de olho nisso na avaliação dos cientistas!

Hoje, os pesquisadores que atuam nas instituições de pesquisa do país são avaliados principalmente pela quantidade e a qualidade da sua produção científica — medida pelo número de vezes que um artigo científico é mencionado em trabalhos acadêmicos posteriores (o que é chamado de “fator de impacto”). Isso está começando a mudar.

Nós defendemos que as atividades de comunicação social da ciência e os impactos dessa comunicação façam parte da própria produção científica e de como a atividade científica é avaliada. Assim, falar sobre ciência com a imprensa poderia fazer parte das atividades previstas pelos cientistas e deveria contar pontos na sua carreira — no lugar de ser uma tarefa extra “se sobrar tempo”.

Avaliação dos cientistas: qual deve ser o perfil de um cientista?

Ao longo de sua formação, cientistas brasileiros aprendem a linguagem acadêmica: escrevem artigos científicos, falam com os seus “pares” (cientistas da mesma área) em congressos. Em nenhum momento, no entanto, há um treinamento específico para comunicação com a sociedade.

Cientistas não aprendem a falar de maneira clara sobre os resultados científicos de um trabalho em entrevistas e ou com congressistas, por exemplo. Justamente por isso, os cientistas devem ser treinados para falar com a sociedade sobre os seus trabalhos — que é uma das principais ações da Bori desde a sua criação!

Avaliação dos cientistas: qual é a importância do cientista para sociedade?

A gente acha que um cientista que divulga sua pesquisa e que consegue, por exemplo, mudar positivamente uma regulamentação ministerial ou um Projeto de Lei em andamento é tão bom quanto — ou melhor — que um cientista que tem pesquisa com alto fator de impacto acadêmico. Então, isso tem de entrar no cômputo das avaliações!

E a gente tem muita história para contar nesse sentido na Bori. Uma pesquisa do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA) antecipada de maneira explicada na Bori em 2022, por exemplo, sobre comércio ilegal de abelhas sem ferrão colocou o problema da biopirataria digital com abelhas em destaque, inclusive em discussões no Congresso Nacional. Esse trabalho, que poderia ter ficado escondido nas prateleiras do instituto, teve alta repercussão em veículos como Agência Brasil, Tribuna MS, SBT, Rádio Rondônia ao Vivo e outros.

“Além disso, graças a essa repercussão, sabemos hoje que o comércio ilegal desses animais na internet sofreu reduções em todo o país. Anúncios em diversos sites pesquisados que exerciam essa atividade ilegal não estão mais disponíveis após a publicação do artigo”, conta o pesquisadora Antônio Freire de Carvalho Filho, do INMA.

E a avaliação da Capes?

A avaliação que a Capes faz dos programas de pós-graduação tem considerado cada vez mais o impacto da ciência na sociedade. Isso, hoje, é feito de maneira qualitativa: os pesquisadores e coordenadores de pós devem indicar seus casos de sucesso nos programas trazendo evidências. Isso é feito em avaliações de grupos de pesquisa de países como Reino Unido e Austrália.

O interessante é que tais evidências dos casos de sucesso na sociedade e de produtos dos programas de pós podem ser justamente divulgação na mídia ou impactos em políticas públicas (como mudanças em regulamentações e Projetos de Lei). “Esse é um processo que requer dos programas e dos pesquisadores ganhar essa experiência e treinamento necessário”, diz Paulo Santos, diretor de avaliação da Capes.

“A partir do momento em que a Capes faz essa solicitação de que os programas indiquem seus casos de sucesso de impacto na sociedade, isso amplia a necessidade de os pesquisadores pensarem formas de se comunicar para os seus pares e em uma perspectiva mais ampla.”

Para quem quiser, todo esse debate feito em 5 de dezembro na comemoração dos 23 anos do Portal de Periódicos da Capes — com a presença da Bori — pode ser acompanhado pelo YouTube da agência. A gente vai seguir acompanhando!

*Jornalista co-fundadora da Bori, pesquisadora e professora no Labjor-Unicamp