Foto: Rodrigo Cabral / ASCOM/MCTI
A co-fundadora da Bori Sabine Righetti (centro) falou sobre institucionalização da comunicação da ciência em mesa sobre o tema na 5ª Conferência Nacional Sobre Ciência e Tecnologia, em Brasília
Publicado na Bori em 31/7/2024, 16:35 – Atualizado em 31/7/2024, 22:19

A comunicação da ciência com a sociedade tem de fazer parte da própria atividade dos cientistas e das instituições de pesquisa — não pode mais ser uma atividade marginal, extra, se sobrar tempo. Essa foi a principal mensagem deixada pela co-fundadora da Bori, Sabine Righetti, na principal mesa sobre o assunto na 5a Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia – 5CNCTI.

O encontro reúne centenas de pesquisadores, gestores e sociedade civil de 30 de julho a 1 de agosto em Brasília. De lá, sairá um documento estratégico para a próxima política científica do país — e a Bori defendeu que a comunicação social da ciência tem de ser transversal em todas as ações da nova proposta.

Isso porque estamos em um cenário de grande distanciamento da ciência produzida no país e da sociedade. A maioria das pessoas não sabe dizer o que as instituições de pesquisa do Brasil fazem ou quem são os principais cientistas brasileiros. “Isso coloca a própria ciência em risco”, diz Righetti.

A proposta apresentada pela Bori traz cinco pontos fundamentais que devem ser levados em conta para que a comunicação social da ciência seja, de fato, institucionalizada.

 

1. Divulgação científica tem de ser valorizada nas métricas das instituições

Agências de fomento à ciência e instituições de pesquisa devem valorizar a relação dos cientistas com a sociedade nas avaliações. Isso significa, por exemplo, considerar a presença do cientista na imprensa como um indicador a ser avaliado em pedidos de recursos para pesquisa, nos concursos públicos e na progressão de carreira

2. Divulgação científica tem de ser estimulada internamente nas instituições

É importantíssimo criar mecanismos que possibilitem e estimulem que os cientistas falem sobre as suas pesquisas com a sociedade. É o caso, por exemplo, da oferta de treinamentos de mídia. Hoje, pesquisadores não se preparam para falar com a sociedade (não-cientistas) em nenhuma etapa da sua carreira

3. Equipes de comunicação das instituições de pesquisa precisam ser fortalecidas

Não dá para fortalecer a comunicação social da ciência se as instituições de pesquisa tiverem equipes desfalcadas. Há universidades federais que sequer têm jornalistas. A maioria também não tem recursos para contratar serviços básicos, como mailing de imprensa

4. Projetos de divulgação científica devem ter fomento próprio

Hoje, a maioria das agências de fomento à ciência viabilizam que bolsistas façam a divulgação de projetos de pesquisa — como se a divulgação fosse um “puxadinho” da ciência. Não há, no entanto, apoio direto para projetos específicos de divulgação científica. Isso precisa ser criado

5. Divulgação científica tem de ter métricas próprias

Projetos de divulgação científica têm de ser avaliados com critérios da comunicação e não da ciência. Exemplo: criou-se um blog para divulgar para a sociedade um assunto específico de um projeto de pesquisa. O conteúdo está sendo acessado? Está sendo compreendido pelo público alvo? (e qual é o público alvo?)

 

Em tempos de negacionismo científico, de desinformação e de desafios urgentes para a própria ciência — como a crise climática — a criação de mecanismos efetivos que possibilitem a circulação do conhecimento científico precisa ser prioritária. A Bori vai acompanhar tudo isso de perto.