Publicado na Bori em 15/9/2022, 16:03 – Atualizado em 16/9/2022, 7:24

Por Sabine Righetti* 

Se eu pudesse dar apenas um conselho aos pesquisadores que querem comunicar o que fazem com a sociedade, diria: faça um treinamento de mídia (media training). Comum entre empresários e políticos, o treinamento de mídia ainda é raridade na academia do Brasil — e isso precisa mudar.

Ao longo de sua formação, cientistas brasileiros aprendem a linguagem acadêmica: escrevem artigos científicos, falam “cientifiquês” em congressos. Em nenhum momento, no entanto, há um treinamento específico para comunicação com a sociedade. Cientistas não aprendem a falar de maneira clara sobre os resultados científicos de um trabalho em entrevistas e nem a escrever um posicionamento com base em evidências, por exemplo, em um artigo de opinião.

Cientistas brasileiros também desconhecem, por falta de treinamento, como funciona a imprensa, as necessidades dos jornalistas, o tempo da mídia. Não sabem as diferenças entre jornalismo no rádio, na TV, no jornal diário ou em uma revista especializada em ciência, por exemplo. A expectativa, como sempre escutamos pelos corredores, é de encontrar um jornalista científico super especialista para entrevistá-lo (o que raramente acontece). É como se pesquisadores quisessem que a imprensa se adequasse à ciência — e não o contrário. Uma das consequências disso é a dificuldade enorme dos jornalistas para encontrar, falar e entender o que dizem os cientistas — desafio que acompanhamos diariamente aqui na Bori. E a ciência se distancia das pessoas.

No sentido oposto, cientistas de grandes universidades americanas ou europeias, por exemplo, recebem muitos treinamentos de imprensa ao longo de sua formação — desde a graduação. Essas universidades costumam ter disciplinas transversais que ensinam a escrever ou a falar claramente ou que debatem o papel da imprensa. Além disso, há oferta de media training oficial para docentes e pesquisadores — em geral, a partir do nível de pós-doutorado. Na Universidade de Michigan (EUA), que conheço bem, por exemplo, há uma equipe de comunicação dedicada ao treinamento de imprensa dos pesquisadores. Os cientistas podem fazer treinamentos ofertados pela universidade ou solicitar ajuda diante de uma demanda de jornalistas.

Não para por aí! Grandes projetos de pesquisa internacionais, como o IPCC, da ONU, também treinam seus cientistas para comunicar de maneira clara resultados científicos. O grupo se habilita a passar uma mensagem clara sobre as pesquisas científicas, o que é importantíssimo para a assimilação social da informação.

Já pensou se tivéssemos isso no Brasil?

As soluções em media training para cientistas

Mas calma: já existem algumas iniciativas bem interessantes por aqui disponíveis na internet. A jornalista Monique dos Anjos, que foi minha aluna no mestrado em Divulgação Científica e Cultural — MDCC, no Labjor-Unicamp, por exemplo, produziu um vídeo de media training para cientistas com dez passos bem práticos para quem quer aprender a falar com a imprensa sobre ciência. Há alguns guias públicos também, como este “De cientista para Jornalista”, da USP. São ótimos pontos de partida!

Buscar treinamentos práticos de imprensa também é um bom caminho. Se você faz parte de um projeto de pesquisa que tem verba para comunicação, que tal contratar um media training para todo o grupo no lugar de, sei lá, criar um blog que dificilmente será consumido? Ou que tal bater na porta da gestão da sua universidade sugerindo que o treinamento de mídia seja parte das atividades de comunicação social da instituição? Falei sobre isso recentemente no Encontro Brasileiro de Divulgadores de Ciência (EBDC): se tiver de investir em apenas uma frente para comunicação ciência com a sociedade, faça um media training!

A Bori faz treinamentos de imprensa esporádicos para cientistas que trabalham em diálogo com as nossas grandes áreas de atuação — como Amazônia e Sistemas Alimentares — e que estão disponíveis para atender a imprensa nos nossos bancos de fontes (de acesso exclusivo a jornalistas cadastrados). São cientistas da nossa comunidade! Também fazemos treinamentos de mídia sob demanda para grupos de cientistas, pesquisadores de projetos temáticos ou instituições de pesquisa. Então, se quiser saber mais sobre esses treinamentos, fale com a gente! E vamos juntos levar a nossa ciência de excelência para todo canto do país.

 

*Jornalista co-fundadora da Bori, pesquisadora e professora no Labjor-Unicamp