Crianças e jovens que precisam trabalhar para ajudar no sustento da família sofrem com acidentes de trabalho que vão de picadas de insetos a intoxicação por agrotóxicos. Em estudo publicado em fevereiro na “Revista Latino-Americana de Enfermagem”, pesquisadores descortinam essa realidade ao apresentar dados de acidentes ocorridos em três ambientes rurais do Sul brasileiro.
Conduzido por pesquisadores das universidades federais do Rio Grande (FURG), de Pelotas (UFPel), e de Santa Maria (UFSM), o estudo acompanhou 211 crianças e jovens que auxiliavam suas famílias no trabalho rural. Todos residiam em áreas rurais, tinham entre 10 e 24 anos e trabalhavam com ou sem remuneração periódica. A faixa etária foi estabelecida com base no boletim epidemiológico desenvolvido pelo Programa Integrado em Saúde Ambiental e do Trabalhador (Pisat), em parceria com o Centro Colaborador em Vigilância aos Agravos à Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde, que evidenciou elevados índices de casos de acidentes de trabalho e mortalidade em crianças e jovens dessas idades.
Criança não trabalha
Na amostragem pesquisada, a prevalência de acidentes de trabalho foi de 55%. As maiores ocorrências foram de picadas de insetos, queimaduras por fogo, quedas, lesões com instrumento de trabalho, choque elétrico e intoxicações por uso de agrotóxicos. Verificou-se ainda que os acidentes foram mais frequentes entre meninas com idade próxima a 15 anos de idade. Entre as causas apontadas pelos participantes da pesquisa estão falta de atenção, pouco ou nenhum conhecimento técnico e sobrecarga de trabalho.
Para Daiani Modernel Xavier, da Escola de Enfermagem da FURG, o estudo pode subsidiar intervenções do poder público. “O objetivo é que os resultados apresentados possam ser usados no desenvolvimento de políticas sociais direcionadas à manutenção da saúde desses jovens e das crianças, no controle das condições de trabalho daqueles que têm idade para trabalhar e na redução dos riscos ocupacionais no ambiente rural.”