O aminoácido beta-alanina é um suplemento nutricional bastante popular entre atletas e praticantes de exercícios físicos. Seu principal efeito é aumentar dentro dos músculos a quantidade de uma substância denominada carnosina que, durante o exercício, neutraliza os ácidos produzidos pela intensa atividade metabólica, ajudando a manter o equilíbrio do pH muscular e atrasando a fadiga. Estudo realizado por pesquisadores da USP mostra que a insulina (hormônio liberado após as refeições) não aumenta a captação de β-alanina para o músculo. Os resultados também refutaram a ideia de que “quanto mais suplemento melhor”, indicando que é importante seguir a suplementação de forma fracionada para evitar que o excesso seja eliminado. A pesquisa foi publicada no dia 26 de fevereiro na revista “American Journal of Physiology – Cell Physiology“.
O estudo avaliou a captação da β-alanina pelos músculos em duas condições diferentes: com alta insulina (imitando o que ocorre após uma refeição) e com baixa insulina (imitando o que ocorre em jejum). A pesquisa foi realizada em duas etapas: primeiro, 12 homens jovens e saudáveis receberam quantidades supra fisiológicas de β-alanina por via intravenosa (0,11g·kg·min -1 por 2h30min). A infusão de β-alanina ocorreu com ou sem infusão concomitante de insulina. Num segundo estudo, 6 homens jovens e saudáveis ingeriram por via oral doses típicas de β-alanina (10 mg/kg de peso corporal) com ou sem infusão de insulina. Amostras de sangue, músculo e urina foram coletadas para avaliar a concentração de β-alanina.
Suplementação fora das refeições
As doses de β-alanina necessárias para aumentar a carnosina muscular variam entre 3,2 e 6,4 g/dia, quantidade muito maior do que os cerca de 600 mg que um onívoro normalmente obtém pela dieta. Logo, suplementar β-alanina é necessário para aqueles que buscam aumentar a quantidade de carnosina em seus músculos. No entanto, apenas uma pequena fração da β-alanina consumida é convertida em carnosina, não ultrapassando 10%. Uma das hipóteses até então aceitas para potencializar a entrada do aminoácido no músculo era consumi-lo junto a refeições, devido a um suposto efeito estimulador da insulina. Os dados do estudo, no entanto, indicam que a hipótese não é verdadeira, já que a quantidade de beta-alanina que entrou no músculo foi similar entre as condições de hiperinsulinemia e jejum.
Os resultados são importantes para o planejamento dietético de atletas e praticantes de exercício físico que fazem uso da suplementação de beta-alanina para melhorar o desempenho. “A suplementação de β-alanina para aumentar o conteúdo de carnosina deve ser feita de forma crônica, com aproximadamente 6g/dia fracionados em 4 doses diárias por pelo menos 1 mês”, explica Lívia de Souza Gonçalves, autora da pesquisa. “Os resultados do nosso estudo mostrando que a insulina não é importante para o carregamento de β-alanina para dentro do músculo tornam o planejamento dietético do atleta mais fácil e prático, sem a necessidade de suplementar as doses diárias com alguma refeição”, diz a pesquisadora. Ainda, os dados reforçam a importância da suplementação fracionada. “Outro achado interessante foi que, quando altas quantidades de β-alanina foram infundidas, aproximadamente 50% da dose administrada foi eliminada na urina”, explica.
Os pesquisadores agora realizam estudos para verificar se outras condições podem estimular e otimizar o transporte de β-alanina para o músculo, como por exemplo, o treinamento. Estudos experimentais (com células) para entender os mecanismos envolvidos na cinética dos transportadores de beta-alanina no músculo esquelético também estão sendo realizados.