4 de outubro de 2024 Salvar link Foto: Freepik
Medicina e SaúdeEm região carbonífera do RS, vulnerabilidade socioeconômica pode ser relevante para o desenvolvimento de doença respiratória em crianças
Quase 8% das crianças apresentou função pulmonar alterada, número semelhante ao de outras áreas industriais do Brasil

Highlights

  • Estudo da Furg avaliou saúde de 396 crianças; nove em cada dez viviam em residências com renda per capita menor que meio salário mínimo
  • Entre as mães, 24% fumaram durante a gestação, e 36% das crianças conviviam com mães tabagistas
  • Pesquisa ajuda a alertar autoridades para a potencialização dos problemas respiratórios em contexto de poluição ambiental

Em região carbonífera do Rio Grande do Sul, a vulnerabilidade socioeconômica das famílias e fatores como tabagismo materno e baixo peso ao nascer podem ser relevantes para o desenvolvimento de doenças respiratórias em crianças. A constatação está em estudo publicado nesta sexta (4) na revista científica “Anais da Academia Brasileira de Ciências” por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande (Furg).

Segundo o artigo, 88% das crianças viviam em residências com renda per capita inferior a meio salário mínimo, 24% tinham mães que fumaram durante a gestação e 36% conviviam com mães tabagistas. Mais da metade das crianças tinham histórico de chiado no peito e 19% delas tiveram pneumonia. Entre as crianças com histórico de problemas respiratórios, as chances de ter função pulmonar alterada foram de 100%, e a presença de um fumante em casa aumentava em 33% essa prevalência. Já crianças com histórico de baixo peso ao nascer tiveram uma alteração 61% maior na função respiratória.

A pesquisa buscou compreender se a função pulmonar de crianças que vivem em sete municípios onde há minas de carvão pode ser afetada pela atividade mineradora. A equipe realizou um estudo epidemiológico com 396 crianças entre sete e 12 anos das cidades de Candiota, Bagé, Aceguá, Hulha Negra, Pedras Altas, Pinheiro Machado e Herval. A região abriga 40% das reservas de carvão do Brasil.

Os cientistas aplicaram um questionário aos responsáveis sobre as condições socioeconômicas e de nascimento dos menores e realizaram um exame de espirometria, conhecido como exame do sopro, que avalia a capacidade pulmonar. A amostra foi representativa da população infantil local. O grupo também coletou informações sobre a qualidade do ar local.

Entre as crianças avaliadas, 31 – quase 8% – apresentaram função pulmonar alterada. A prevalência é similar à de outras áreas industriais no Brasil, mas menor do que o esperado pelos pesquisadores inicialmente. “Não existe um aumento pronunciado, mas é importante levar em consideração que, quando se tem uma exposição alta à poluição ambiental associada a problemas estruturais socioeconômicos, isso pode potencializar efeitos na saúde”, afirma Flávio Rodrigues, biólogo toxicologista, coautor do estudo e pesquisador da Furg.

Todos os dados foram enviados para as secretarias de saúde municipais e para as secretarias de educação para orientar políticas públicas para prevenção de problemas respiratórios, de acordo com os pesquisadores. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), órgão licenciador das usinas termelétricas, também foi informado para auxiliar em ações de gestão ambiental.

Rodrigues ressalta que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a exposição à poluição é um importante fator de risco para mortalidade precoce. “Pelo menos 7 milhões de pessoas morrem por ano em decorrência da poluição, então é muito importante que o poder público a enxergue como um problema sério”, comenta.

Este é um dos primeiros estudos que avalia a saúde pulmonar de uma população que vive próxima a regiões carboníferas no país, de acordo com o biólogo. Até agora, apenas dados sobre áreas de minas de carvão na China e na Europa Ocidental estavam disponíveis. “Não tínhamos informações sobre a população brasileira, então agora podemos basear melhor nossas políticas públicas e ações de gestão ambiental”, diz.

Termos de uso

Todos os releases sobre as pesquisas nacionais já publicados na área aberta da Bori (e que, portanto, não estão sob embargo) podem ser reproduzidos na íntegra pela imprensa, desde que não sofram alterações de conteúdo e que a fonte Agência Bori seja mencionada.

Veja como citar a BORI quando for publicar este artigo:

Fonte: Agência Bori

Ao usar as informações da Bori você concorda com nossos termos de uso.

Publicado na Bori em 4/10/2024, 23:45