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Publicado na Bori em 4/9/2024, 12:08 – Atualizado em 4/9/2024, 19:20

Por Mariana Hafiz*

Comunicar os processos e resultados da ciência é parte integral da produção científica. Pesquisadores precisam comunicar os métodos e os achados dos seus estudos para outros pesquisadores — seus pares — para publicar artigos científicos e, assim, registrar o conhecimento.

Divulgar a ciência para quem está fora dos ambientes de pesquisa e das universidades também é importante, e a imprensa tem um papel crucial nisso. Evidências recentes mostram que a divulgação de pesquisas para o público mais amplo pode ser benéfica inclusive para a própria comunidade científica. Pesquisadores da Austrália e Alemanha observaram que artigos científicos divulgados de forma antecipada para a imprensa recebem mais citações, downloads e menções em redes sociais do que os que não foram disseminados dessa forma.

As iniciativas que promovem a interação entre quem produz ciência e a sociedade de forma mais ampla fazem parte das chamadas ações de engajamento público, no termo acadêmico.

Segundo a literatura, esses impactos positivos parecem acontecer com artigos divulgados tanto por agências de notícia especializadas, como a Bori, quanto por e-mails das revistas nas quais eles foram publicados. Além de agências como a Bori, no Brasil, e a EurekAlert!, dos Estados Unidos, que antecipam de maneira explicada artigos científicos para milhares de jornalistas, existem iniciativas de assessorias de imprensa e relações públicas dentro de revistas e instituições de pesquisa que também divulgam as pesquisas para a imprensa.

O que dizem os estudos

A literatura da área discute que esses serviços são importantes porque permitem que as instituições consigam manter certo controle sobre quando ocorrerá a divulgação dos trabalhos e quais resultados serão divulgados. É o caso de um trabalho recente de pesquisadores da Alemanha.

Ainda não se sabe exatamente por que artigos divulgados têm desempenho melhor nas métricas científicas – citações, downloads e menções nas redes sociais – e tampouco se a correlação encontrada é causal — ou seja, não se sabe se é a divulgação para a imprensa que causa esses índices ou o que mais explicaria essa correlação.

É possível, por exemplo, que jornalistas selecionem artigos para noticiar com critérios parecidos com os quais cientistas citam outros trabalhos? Essa é uma das hipóteses levantadas por cientistas da Universidade da Califórnia em San Diego (EUA). Ou até que ponto os pesquisadores também são leitores dos grandes jornais e acabam tendo conhecimento desses estudos pela imprensa? Isso ainda precisa de mais investigação.

Mesmo assim, os indícios apontam para impactos positivos da amplificação de visibilidade que a imprensa confere a produtos da atividade científica. Essa visibilidade pode não só ajudar a inserir a ciência no debate público — como é tradicionalmente discutido na área de comunicação e jornalismo de ciência — mas parece ter benefícios para a própria comunidade científica.

Avançar nesses dados é importante para que instituições que financiam, publicam e produzem ciência possam desenhar medidas adequadas de comunicação dos seus trabalhos. Por exemplo, entender melhor o que faz um artigo ser divulgado pela imprensa e se os efeitos observados se mantêm em diferentes agências e assessorias podem ser caminhos interessantes.

 

*Mariana Hafiz é doutoranda em Política Científica e Tecnológica na Unicamp. É mestre em Divulgação Científica e Cultural pelo Labjor-Unicamp. Desenvolve pesquisas sobre a interação entre ciência e sociedade, desinformação e comunicação de ciência. Email: [email protected]