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Equipes de comunicação pequenas são a regra em universidades federais, o que prejudica seu diálogo com a sociedade.
Publicado na Bori em 15/2/2024, 16:51 – Atualizado em 28/2/2024, 16:54

*Sabine Righetti

Ninguém questiona a importância da divulgação científica para a sociedade, especialmente depois da pandemia de Covid-19. Só que quando a gente analisa a estrutura das universidades brasileiras para se comunicar com a sociedade vemos que a divulgação científica ainda segue nas margens das instituições.

Antes de mais nada, precisamos entender que a imensa maioria da ciência brasileira — cerca de 95% — é feita nas universidades públicas. Então, olhar para a estrutura de comunicação social dessas instituições é importante para entender, afinal, como se dá a comunicação social da ciência no país.

É isso que fez Cibele Aguiar, em sua tese de doutorado no Programa de Política Científica e Tecnológica da Unicamp, sob orientação do professor Sergio Monteiro Salles-Filho. Eu fui membro da banca de qualificação e da defesa dela, em 2023, então acompanhei o trabalho de perto.

Aguiar é, ela própria, jornalista de uma universidade pública, a UFLA (Universidade Federal de Lavras). Ela conhece a rotina de comunicação social da universidade com o seu entorno — e resolveu olhar para as 69 universidades federais do país. Conseguiu falar com 51 delas (75% da amostra). É bastante coisa.

A tese de Aguiar é bem complexa, tem indicadores variados, que ela criou baseada em teorias pregressas. Vou trazer aqui apenas alguns dados simples, porém bem importantes, que deixam clara a sobrecarga das equipes de comunicação das universidades federais entrevistadas e a falta de investimento nessa área.

Equipes de comunicação

Mais da metade das respondentes (37 universidades) tem menos de cinco jornalistas na equipe de comunicação — para atuar na universidade inteira. Três universidades ainda não tinham nenhum jornalista na equipe de comunicação quando o levantamento foi realizado (sim, é isso mesmo que você leu). E dá para fazer comunicação social de uma universidade sem jornalista? Pois é.

E precisa ir além de jornalistas. Comunicação social, claro, é um trabalho multidisciplinar, que demanda gente de várias especialidades para funcionar. Só que Aguiar viu que menos da metade das equipes de comunicação das universidades federais entrevistadas (38,2%) tem profissionais de relações públicas e cerca da metade (52,9%) conta com profissionais de propaganda e marketing, super importantes, por exemplo, para redes sociais.

Vamos falar de redes sociais: todas as universidades federais entrevistadas usam Facebook, Instagram e YouTube, quase todas usam Twitter e cerca de metade usa o LinkedIn. Porém, só uma em cada três universidades entrevistadas (35,3%) gera relatórios de desempenho das mídias digitais/redes sociais! E só 17,6% utilizam ferramentas, softwares e outros aplicativos específicos para o monitoramento e avaliação da comunicação (que, claro, custam dinheiro). Ou seja: a maioria das universidades usa redes sociais, mas não sabe o que está dando certo ou errado!

Por fim: as universidades entrevistadas produzem press-releases sobre suas pesquisas para mandar à imprensa, mas só uma em cada dez delas (11,8%) diz contar com lista de contatos de imprensa (mailing) gerenciado por empresa especializada e só duas em cada dez (19,6%) afirmam realizar o monitoramento de menções na mídia (clipping) com empresa especializada.

Isso é bem importante. A gente sempre diz que não dá para ter equipe de comunicação nas universidades com um ou dois jornalistas sem estrutura como mailing ou clipping. Seria como ter uns dois médicos para fazer uma cirurgia sem os devidos equipamentos — e sem os demais profissionais de saúde.

Bori pode ajudar

A Bori, claro, pode dar uma força na disseminação de estudos científicos das universidades federais à imprensa — que é uma parte bem específica do trabalho de comunicação social da ciência. Assessores de imprensa das instituições podem, por exemplo, enviar artigos científicos diretamente para nossa curadoria. A gente dissemina de dois a três estudos por semana de maneira explicada à imprensa para mais de 3 mil jornalistas cadastrados. Em quatro anos de atuação, foram quase 600 estudos divulgados a jornalistas pela Bori, com quase 10 mil menções na imprensa escrita.

Também podemos desenvolver soluções específicas para comunicação social da ciência sob demanda (fale com a gente no bori@abori.com.br). Somos uma espécie de “ferramenta especial” em um ecossistema que é enorme. Não podemos, no entanto, substituir as equipes internas de comunicação, que são essenciais para que a universidade efetivamente chegue à sociedade.

Comunicação social da ciência tem de envolver equipe diversa e multidisciplinar (incluindo gente de fora da comunicação, como cientistas de dados; temos aqui na Bori!) e contratação de uma série de serviços terceirizados como clipagem. Senão, não haverá resultados — que, aliás, têm de ser periodicamente analisados.

Está na hora de enxergarmos a comunicação como parte central e não marginal da ciência. Sem ser comunicada, a ciência não existe.

*Jornalista cofundadora da Bori, pesquisadora e professora no Labjor-Unicamp