O aumento da temperatura no Brasil em decorrência da mudança climática pode colocar em xeque a produção de café no país ao favorecer o avanço da doença ferrugem do cafeeiro sobre as plantações. Cientistas projetam um aumento de quase 30% de casos da praga provocada pelo fungo Hemileia vastatrix, que ataca as folhas dos cultivares e reduz significativamente a produção do grão. É o que mostra uma simulação feita pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), apontando São Paulo e Minas Gerais como os possíveis estados mais afetados.
Os dados publicados no fascículo de dezembro da “Revista Pesquisa Agropecuária Brasileira”, e disponíveis de maneira online no mês seguinte, apresentam o resultado de simulação feita com o cultivo do café Arábica – principal espécie vendida para o mercado mundial – a partir de índices de temperaturas disponibilizados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Considerando que as emissões de gases de efeito estufa (GEE) atuais resultarão em aumento de 2,6ºC a 4,8ºC na temperatura global foi possível estimar que haverá aumento de 27,6% de casos graves e muito graves de ferrugem do cafeeiro até 2040.
O ciclo da doença depende de condições climáticas para se desenvolver. No Brasil seu início normalmente ocorre em dezembro, quando a temperatura e o volume de chuvas tendem a aumentar, mas com picos entre maio e junho, de forma que invernos mais quentes e chuvosos que o normal podem contribuir diretamente para o aumento de sua inoculação nos cafezais.
Cenário incerto com mudança climática
A ferrugem do cafeeiro é uma das doenças com maior impacto econômico no cenário global. Previsões apontam que as perdas no Brasil podem chegar até 50% da produção total de café, com chances de alcançar 90% de prejuízo em casos de grandes epidemias. O fungo Hemileia vastatrix deixa lesões arredondadas e manchas amarelo-alaranjadas nas partes inferiores das folhas.
A gravidade econômica relacionada à perda de produção em função da ferrugem do café faz com que cenários futuros de mudanças climáticas, onde temperaturas serão mais elevadas, alertem para a necessidade de estudos sobre estratégias e alternativas de controle da doença.
Esta pesquisa foi financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).