18 de junho de 2024 Salvar link Foto: Pablo Cerqueira / Acervo pesquisadores
AmbienteOscilações climáticas na Caatinga resultaram no surgimento da espécie Sakesphoroides niedeguidonae. Na foto, uma fêmea dessa espécie
Oscilações climáticas na Caatinga resultaram no surgimento da espécie Sakesphoroides niedeguidonae. A foto apresenta uma fêmea dessa espécie

Highlights

  • Pesquisa avaliou dados como a plumagem, o canto e a genética de 1079 indivíduos e concluiu que as chocas-do-nordeste são, na verdade, duas espécies
  • Resultados sugerem que mudanças climáticas históricas e variações no curso do rio São Francisco tiveram papel importante na separação dessas espécies irmãs
  • As descobertas podem contribuir para a criação de estratégias mais eficazes de preservação para esses animais e favorecer os cuidados com o bioma Caatinga

Dados genéticos de um grupo de aves da Caatinga conhecidas como choca-do-nordeste indicam que alterações no curso do rio São Francisco e oscilações climáticas ocorridas ao longo de um milhão de anos causaram a divisão do grupo em duas espécies distintas. Uma delas foi descrita pela primeira vez nesta terça (18) na revista científica “Zoologica Scripta”. O artigo é fruto de parceria entre o Instituto Tecnológico Vale (ITV), o Museu Paraense Emílio Goeldi e as universidades federais do Pará (UFPA) e do Rio Grande do Norte (UFRN).

Os indivíduos da nova espécie, nomeada Sakesphoroides niedeguidonae, até então, eram considerados parte da espécie Sakesphoroides cristatus. Porém, o estudo descobriu diferenças genéticas, de plumagem e de canto entre os grupos.

Os pesquisadores analisaram características da plumagem, das formas e as medidas corporais de 1079 aves, incluindo 92 exemplares preservados em museus e 987 fotografias digitais. Além disso, estudaram 115 gravações sonoras atribuídas às chocas-do-nordeste, 58 amostras de material genético e 568 registros de ocorrência que indicavam a distribuição geográfica dessas aves. Com as informações em mãos, estimaram ainda a história genética do grupo e as relações de parentesco entre as linhagens. Também foi possível inferir o tamanho populacional e os nichos climáticos – ou seja, a distribuição de indivíduos de acordo com condições climáticas – ocupados pela espécie ao longo de sua história.

A equipe identificou dois padrões distintos no canto das aves, que coincidiam com diferenças na plumagem das fêmeas. Ao mesmo tempo, os dados genéticos revelaram a presença de dois grupos diferentes nas amostras, com uma diferença no material genético de 1,8%. Alexandre Aleixo, pesquisador do ITV autor do artigo, explica que, se todos os indivíduos pertencessem à mesma espécie, como se acreditava antes do estudo, esse número seria próximo de zero. “Comparamos as informações com outras espécies da mesma família e vimos que esse valor é até maior do que o encontrado entre outras espécies já reconhecidamente há séculos como diferentes”, completa Pablo Cerqueira, atualmente pesquisador-bolsista do ITV e primeiro autor do artigo.

Os achados chamam atenção para a diversidade da Caatinga. “Estamos vendo que a Caatinga tem espécies ainda não descritas de todos os grupos e, quanto mais frequente for a incorporação de dados moleculares nos estudos, maior é a chance de encontrar novas espécies”, comenta Aleixo. Cerqueira destaca que esse foi o primeiro estudo a mostrar um novo padrão evolutivo para as aves da região, sinalizando que ainda há muito a ser descoberto.

O estudo pode contribuir para a criação de estratégias de proteção para essas espécies e para o ecossistema como um todo, além de abrir espaço para outras pesquisas. “Os futuros estudos ecológicos e populacionais podem ser mais focados em cada uma das espécies, avaliando se os tamanhos populacionais estão sofrendo influência do desmatamento e se variam com o aumento de temperatura”, exemplifica Cerqueira.

A partir da hipótese de diversificação da Caatinga mediada pelo rio São Francisco e das oscilações climáticas históricas, o grupo planeja continuar testando esses padrões em outras espécies com distribuição similar. “Queremos também trabalhar com genomas completos em torno dessa nova espécie e entender melhor como é a relação com a espécie irmã quando elas se encontram”, conclui Aleixo.

Termos de uso

Todos os releases sobre as pesquisas nacionais já publicados na área aberta da Bori (e que, portanto, não estão sob embargo) podem ser reproduzidos na íntegra pela imprensa, desde que não sofram alterações de conteúdo e que a fonte Agência Bori seja mencionada.

Veja como citar a BORI quando for publicar este artigo:

Fonte: Agência Bori

Ao usar as informações da Bori você concorda com nossos termos de uso.

Publicado na Bori em 18/6/2024, 23:45