29 de agosto de 2022 Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Reg. 000-21 Sampa+ Rural. Horta das Flores na Avenida Alcântara Machado, na Mooca. 2021/09/14 Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Por Islandia Bezerra

Ao falarmos de políticas públicas alimentares é preciso concebermos um foco. E este foco é a agroecologia

“Não há como dimensionar o valor da vida, se não dimensionarmos o valor da própria existência. A vida que pulsa e impulsiona processos sociais, culturais e identitários, biológicos e fisiológicos, alinhados com a natureza, passa pelo ato de se alimentar (e alimentar os/as demais)” 1. Com essa citação, inicio esta reflexão acerca dos sistemas alimentares sustentáveis e saudáveis e de como estes sinalizam e concretizam a saída do quadro desolador de fome, miséria, destruição ambiental que assola o nosso país.

Para termos a garantia do bom comer alimentos e/ou preparações e outras conexões são imperativas. Nutrir corpo, mente e espírito depende de fatores de como produzir e/ou adquirir, preparar, comer e, por fim, aproveitar biológica e fisiologicamente seus nutrientes. Sem negligenciar outras dimensões como as simbólicas, culturais, ou aquelas que atendam também os aspectos da espiritualidade e/ou do prazer do comer.

A complexidade dos sistemas alimentares e – me refiro a “alimentares” já que ao usar o termo “agroalimentares” localiza o debate no campo da agricultura -, passa por compreender o papel das políticas públicas nessa conformação. Nesses termos, Elisabetta Recine, Ana María Suárez Franco e Colin Gonsalves (2021) 2 trazem para o bojo das análises a concepção de “processos alimentares” 3. Os processos alimentares são flexíveis, diversos, multidimensionais e “circular na sua aparência e espiral em sua evolução”.

Esta concepção nos faz convergir para a agroecologia. Essa ciência que com sua dinamicidade dialoga com movimentos sociais do campo (e da própria natureza) e, na prática considera as distintas formas de construir conhecimentos científicos e populares e nos localiza no campo das políticas públicas de forma mais propositiva.

Ao falarmos de políticas públicas alimentares é preciso concebermos um foco. E este foco é a agroecologia. Portanto, as políticas públicas alimentares e agroecológicas têm, por essência, a capacidade de desafiar as estruturas de poder – capitalista, classista, patriarcal, machista e racista – que nos amarram. Estas devem considerar, portanto, processos que orientem e promovam novas relações da sociedade-natureza, dela com ela mesma e dela com a natureza.

Precisamos garantir a institucionalidade necessária, sobretudo de democracia e respeito ao Estado de direitos, para pôr em prática as transições-transformações que precisamos para avançar enquanto um país plural, diverso, alimentado e nutrido.

 

Sobre a autora

Islandia Bezerra é potiguara. Mulher. Mãe. Professora associada, extensionista e pesquisadora da Faculdade de Nutrição/FANUT da Universidade Federal de Alagoas/UFAL. Educadora colaboradora na ELAA (Escola Latino-Americana de Agroecologia). Nutricionista com mestrado e doutorado em ciências sociais/UFRN. Pós-doutorado na Universidad Autónoma de Chapingo/UACh, México. Presidenta da Associação Brasileira de Agroecologia/aba-agroecologia

 

Sobre o texto

Esse ensaio faz parte de um conjunto de artigos publicados, conjuntamente, pela Bori e Nexo Políticas Públicas no âmbito da série “Coletiva Bori & Nexo Políticas Públicas sobre sistemas alimentares”. Para reproduzi-lo em veículos de comunicação, é preciso informar que o texto foi originalmente publicado no Nexo Políticas Públicas e Bori.

 

Os artigos de opinião publicados não refletem, necessariamente, a opinião da Agência Bori.

Termos de uso

Todos os artigos de opinião já publicados na área aberta da Bori (e que, portanto, não estão sob embargo) podem ser reproduzidos na íntegra pela imprensa, desde que não sofram alterações de conteúdo e que os nomes e instituições dos autores sejam mencionados.

Ao usar as informações da Bori você concorda com nossos termos de uso.

Publicado na Bori em 29/8/2022, 8:45 – Atualizado em 29/8/2022, 8:46