15 de setembro de 2023 Salvar link Foto: Lúcio Borges / Acervo FMA
Biologia
Entre 2017 e 2019, seis indivíduos foram analisados em uma área de cerca de 82 mil metros quadrados.

Highlights

  • Pesquisadores avaliaram as características de áreas habitadas por seis peixes-bois-marinhos no litoral nordestino entre 2017 e 2019
  • Os resíduos estão presentes em 44% das áreas usadas nos estados da Paraíba, Sergipe e Bahia
  • A manutenção de matas ciliares e manguezais são de grande importância para proteger os animais em seus ecossistemas

Resíduos sólidos, especialmente plásticos, estão presentes em áreas habitadas pelo peixe-boi-marinho, mamífero aquático ameaçado de extinção no Brasil. Isso é muito perigoso para esses animais: há registros de óbitos por ingestão acidental. As conclusões são de uma pesquisa da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), da Fundação Mamíferos Aquáticos (FMA) e do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, publicada na sexta (15) na revista “Anais da Academia Brasileira de Ciências”.

Entre 2017 e 2019, os pesquisadores avaliaram, em uma área total de 82 mil metros quadrados, características de áreas habitadas por seis peixes-bois-marinhos nos estados da Paraíba, Sergipe e na Bahia. Os animais foram soltos nos estados da Paraíba e Alagoas, com espécimes se deslocando e utilizando os estados de Sergipe e Bahia. A iniciativa faz parte da estratégia de conservação do animal, na tentativa de restabelecer a espécie em parte de sua distribuição geográfica original, da qual foi extirpada, bem como aumentar o tamanho das populações remanescentes. O estudo possibilita definir áreas prioritárias para a espécie, incluindo as preferidas para soltura de animais reabilitados após encalhe.

Áreas abrigadas, rasas e calmas foram as preferidas pelos animais, sendo locais com maior disponibilidade de alimentos e proteção, valiosa no cuidado das fêmeas com seus filhotes. A presença de resíduos sólidos foi observada em 44% das áreas utilizadas pelos mamíferos, preocupando os pesquisadores. “A presença de resíduos em áreas usadas pelos animais é sempre muito preocupante porque, dependendo do tipo de resíduo, tamanho e textura, os animais podem ingerir estes materiais, principalmente os plásticos”, aponta o coautor do estudo, João Carlos Gomes Borges.

O plástico foi o predominante entre os resíduos encontrados no estudo e representa risco à vida dos animais, pois ao aderir às algas marinhas, pode ser acidentalmente ingerido e levar a óbito — o que já foi observado em estudos anteriores. O uso de praias em municípios em que não há tratamento dos esgotos impacta a quantidade de resíduos, contaminando estuários e áreas costeiras. O problema também afeta outros animais aquáticos, como tartarugas e aves marinhas.

Entre as medidas para impedir contaminações, Borges ressalta a importância de resguardar a manutenção das matas ciliares e manguezais. “Nós observamos que, em alguns casos, a perda de habitats tem ocasionado áreas de assoreamento e facilitado o despejo de resíduos das atividades agropecuárias diretamente nos mananciais, chegando nas áreas utilizadas pelos peixes-bois”, diz o pesquisador.

Uma alternativa para equacionar o problema é vincular os dados ao zoneamento de tais áreas, com a proposição de unidades de conservação com maior restrição de uso para atividades humanas. A medida poderia impedir o número crescente de embarcações motorizadas nestas áreas, decorrentes das atividades de pesca ou de recreação náutica, que traz riscos bastante críticos aos peixes-bois, a exemplo do atropelamento por lanchas ou jet-skis.

Para Borges, é fundamental que todos possam se conectar com a natureza de maneira segura. É preciso respeitar o hábitat das espécies, reforçando que as regras são fundamentais para que as espécies estejam conservadas. “Recomendamos o estabelecimento de critérios e regramentos para a navegação náutica, principalmente nessas áreas utilizadas por peixes-bois, para minimizar os riscos de colisão envolvendo essas embarcações”, conclui o pesquisador.

 

DOI: https://doi.org/10.1590/0001-3765202320220574

Termos de uso

Todos os releases sobre as pesquisas nacionais já publicados na área aberta da Bori (e que, portanto, não estão sob embargo) podem ser reproduzidos na íntegra pela imprensa, desde que não sofram alterações de conteúdo e que a fonte Agência Bori seja mencionada.

Veja como citar a BORI quando for publicar este artigo:

Fonte: Agência Bori

Ao usar as informações da Bori você concorda com nossos termos de uso.

Publicado na Bori em 15/9/2023, 23:45 – Atualizado em 12/1/2024, 10:13