Foto: Mauro Gigli / Unsplash
Publicado na Bori em 29/8/2022, 9:00 – Atualizado em 29/8/2022, 9:16

A imprensa tem demandas próprias e a ponte entre ciência e mídia tem de ser feita por equipes de comunicação especializadas

Por Sabine Righetti*

Acontece com bastante frequência: a gente seleciona uma pesquisa para divulgação à imprensa pela Bori e o cientista porta-voz relata — chateado — que já teve uma experiência pregressa mandando uma pesquisa anterior diretamente a jornalistas e foi ignorado. Ou então pede para encaminhar a jornalistas, ele mesmo, diretamente, o texto explicativo que fazemos na Bori sobre o artigo científico selecionado para disseminação.

Nada disso dá certo. Explico.

A gente sempre reforça, na Bori, que os cientistas de todas as áreas do conhecimento devem se preocupar com a disseminação social de suas pesquisas. Dizemos que isso é muito importante, que a disseminação social da ciência tem de fazer parte da atividade científica, que é uma forma de retornar às pessoas aquilo que elas próprias pagaram com seus impostos. Isso não significa, no entanto, que o pesquisador tem de sair fazendo press release dos seus trabalhos e enviando diretamente a repórteres. Esse trabalho é especializado e deve ser feito por profissionais de comunicação.

Vamos lá: dificilmente um cientista vai saber o que destacar da sua pesquisa em um press release (e tudo bem não saber!) Esse tipo de texto tem de ter linguagem compreensível e elementos que convençam a imprensa a reportar a pesquisa. Beira o marketing. Cientistas não são treinados para isso.

Alguns periódicos científicos internacionais até pedem que cientistas escrevam um “resumo” para divulgação ampla de sua pesquisa. Esse material pode ser enviado por uma equipe de comunicação do periódico à imprensa ou pode dar base à elaboração de um press release — que, aí sim, irá pautar a imprensa. Mesmo nesses casos, há uma ponte entre a ciência e a mídia — e esse meio de campo é muito importante.

Sexta-feira

A imprensa tem seu próprio tempo, tem demandas específicas, tem um ritmo bem específico de trabalho. Dependendo do que estiver acontecendo no noticiário factual, um press release pode não ter impacto. Mais do que isso: dia e horário em que uma pesquisa é divulgada podem determinar se o trabalho terá ampla repercussão ou será ignorado. Por exemplo: nada pior do que disseminar um estudo numa sexta-feira à tarde, quando a imprensa fecha o dia e a semana — e ainda trabalha para matérias especiais de sábado e domingo. Novidades tendem a passar batido (não é coincidência que alguns governos gostam de anunciar dados negativos bem às sextas!)

Mas voltemos ao cientista. Quem está na academia, além de desconhecer processos inerentes da imprensa e estratégias para alcançá-la, também pode se perder ao enviar um material científico a jornalistas. Vai mandar para quem? Para quais veículos? E o material será enviado como? Esqueça e-mail: jornalistas recebem centenas por dia e mal abrem um outro.

A ponte entre ciência e imprensa tem de ser feita por equipes de comunicação especializadas. Então, se você tiver uma pesquisa em vias de publicação que queira divulgar de maneira ampla, procure a assessoria de comunicação da sua instituição, que trabalha em contato constante com jornalistas. Se não houver esse tipo de equipe na sua instituição, com foco na divulgação da ciência para imprensa, cobre os gestores por isso. Em casos de grandes projetos e grupos de pesquisa, com recursos próprios, por que não contratar um profissional ou até mesmo uma equipe de comunicação?

Vale ainda mandar o artigo científico diretamente para a Bori, que atua como uma ponte entre a ciência e a imprensa ao disponibilizar uma coletânea de materiais inéditos explicados para 2,3 mil jornalistas de todo o país — que, proativamente, escolheram se cadastrar para acessar os nossos materiais. Os jornalistas para os quais você mandaria sua pesquisa diretamente provavelmente estão na Bori. Dá certo, confie no processo.

E, se você quiser muito investir na comunicação da sua ciência com a sociedade, procure fazer um treinamento de imprensa. Novamente: você pode cobrar sua instituição de pesquisa para a oferta desse serviço!

Pode ser frustrante a informação de que cientistas não devem encaminhar suas pesquisas diretamente à imprensa porque isso não vai funcionar. Mas pior ainda é gastar tempo e energia nesse processo e acabar sem nenhum resultado.

*Co-fundadora da Bori e pesquisadora do Labjor-Unicamp