Publicado na Bori em 9/10/2023, 13:32 – Atualizado em 9/10/2023, 14:17

O compromisso com uma ciência aberta, diversa e inclusiva, acessível a pessoas em diferentes contextos, foi reafirmado pela comunidade de editores de revistas científicas durante a Conferência SciELO 25 anos, que aconteceu no final de setembro, em São Paulo. O encontro comemorou o aniversário da rede SciELO e debateu as perspectivas e desafios para os próximos 25 anos da rede. A Bori participou como apoiadora do evento e integrou duas mesas — no primeiro e no último dia das reuniões.

O termo “ciência aberta” trata da produção científica acessível de maneira ampla. Isso significa, por exemplo, tornar públicos os processos de avaliação de cada artigo científico e os dados de investigação usados nesses artigos científicos. Hoje, a chamada “avaliação por pares” ainda é uma caixa preta: não se sabe quem participou dos processos de avaliação e nem o que foi dito. Os dados de pesquisa que embasam as publicações raramente são publicados (e, quando são, dificilmente estão em formatos de fácil acesso).

A Bori entende “ciência aberta” também como a produção científica acessível à população de maneira geral — e levou essa mensagem à conferência. “A ciência não termina com a publicação dos artigos científicos – mesmo que estejam públicos, abertos, gratuitos – mas sim com a informação chegando à sociedade”, disse Sabine Righetti, co-fundadora da Bori, na relatoria do encontro.

Righetti defendeu ainda a publicização de informações específicas sobre os autores dos artigos científicos. “Precisamos saber quem está produzindo ciência para conseguir avaliar e pensar em estratégias para a diversidade da produção acadêmica”, disse. Hoje, a disponibilização da lista de autores de cada artigo científico não permite identificar gênero e raça dos pesquisadores.

Visibilidade da ciência

A importância de divulgar ciência para a imprensa, aliás, foi abordada pela gerente de conteúdo da Bori Natália Flores na mesa “Rumando para a ciência aberta: em busca de visibilidade e impacto”, no primeiro dia do evento. Flores apresentou os impactos da disseminação da ciência para sociedade pela imprensa via Bori — que vão desde a visibilidade dos resultados da pesquisa em regiões do país com pouco acesso à informação, como os desertos de notícias, até o seu uso em políticas públicas por tomadores de decisão.

A mesa, mediada pelo presidente da ABEC (Associação Brasileira de Editores Científicos), Sigmar Rode, teve também a participação de Ivo Milton Raimundo Junior (Journal of the Brazilian Chemical Society), Massimo de Felice e Zenaida Lauda (Ambiente & Sociedade) e Dina Paola Armijo Silva (coordenadora interinstitucional da rede Chilena de Revistas Científicas de Acceso Abierto de las Universidades Estatales).

Os principais debates abordaram também o papel do acesso aberto da ciência diante de desafios mundiais como a crise climática, as desigualdades sociais e as futuras pandemias. A atuação da comunidade científica durante a pandemia de Covid-19, com a rápida disponibilização de pré-prints, foi lembrada como um exemplo a ser seguido pela ciência em momentos de crise.

O uso da inteligência artificial, que já é uma realidade nas práticas acadêmicas de produção de conhecimento científico, também foi um tópico tratado nas discussões da conferência. Há um consenso geral de que essa tecnologia pode ser útil para a ciência, ao automatizar pesquisas e processos de produção e de revisão de artigos científicos, mas que é preciso utilizá-la com cautela e com supervisão humana para evitar erros e incoerências de informação. Por questões éticas, é preciso citar o uso da IA nas referências dos artigos científicos.

O evento comemorativo aos 25 anos da rede SciELO aconteceu de 25 a 29 de outubro, em São Paulo, e teve mais de 1.400 inscritos de 21 países diferentes. A Declaração em Apoio à Ciência Aberta com IDEIA — Impacto, Diversidade, Equidade, Inclusão e Acessibilidade, divulgada na conferência, pode ser acessada aqui.