Cientistas brasileiros descobriram que um biossorvente feito a partir da secagem da casca da laranja pêra consegue remover de corpos aquáticos o corante bordô, muito utilizado pela indústria têxtil — o que diminui a contaminação das águas. O estudo publicado no fascículo de dezembro da “Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental” foi desenvolvido por pesquisadores da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).
Biossorventes são tecnologias utilizadas no tratamento da poluição de recursos hídricos, em que são usadas matéria orgânica (biomassa) de alguns frutos para remover metais pesados presentes. O resultado obtido com casca de laranja é promissor porque sua biomassa tem grande potencial para remoção dos íons metálicos – responsáveis pela contaminação. Trata-se de alternativa eficiente, mais simples e barata que o carvão ativado comercial, técnica comumente empregada.
A pesquisa verificou que após a secagem da casca foi possível remover, em 40 minutos, 60% das 2.000mg de corante contidas em um litro de água pelo processo chamado adsorção – o qual as moléculas de um fluido ficam retidas a uma superfície sólida. Notou-se ainda durante o tratamento que a quantidade adsorvida foi maior em soluções de pH mais baixo e com maior concentração inicial do corante. Os autores viram também que o percentual de remoção do corante vai aumentando de acordo com a quantidade de cascas de laranja utilizadas como biossorventes.
Indústria têxtil é uma das mais poluentes
O descarte de resíduos têxteis com alta concentração de corante em rios e mares causa inúmeros malefícios ao meio ambiente ao restringir a penetração de radiação solar e, com isso, comprometer o processo de fotossíntese dos ambientes aquáticos, reduzindo seu nível de oxigenação. No Brasil, a indústria têxtil é bastante presente e possui alto valor econômico, sendo a quarta maior produtora de denim e malhas do mundo – com movimentação financeira em torno de US$ 48,3 bilhões em 2018, de acordo com a Associação Brasileira de Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT).
A busca por biossorventes alternativos feitos de subprodutos da agricultura e eficazes na remoção desses poluentes têm aumentado devido à abundância de recursos agroindustriais no país, que além de eficientes são biodegradáveis e baratos. A casca de laranja é um desses subprodutos mais disponíveis no Brasil por serem resíduos da indústria de sucos nacional – responsável pela produção de metade do suco de laranja consumido em todo o mundo, segundo a pesquisa “Retrato da Citricultura”, elaborada pela Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA – USP Ribeirão Preto).