26 de agosto de 2020 Salvar link Foto: Scott Graham / Unsplash
Economia e Administração

Highlights

  • O padrão IFRS, de uniformização das demonstrações financeiras, tornou-se obrigatório para todas as empresas brasileiras em 2010
  • Estudo comparou, no período de 2007 a 2010, empresas com baixo nível de qualidade contábil e governança corporativa a firmas do mesmo porte e segmento que já adotavam o IFRS antes
  • Adesão às práticas eliminou quase completamente a diferença de estimativa de valor preexistente entre os dois grupos de empresas

A adoção de regras de transparência e de normas internacionais de contabilidade tem impacto positivo no valor das empresas e no mercado de investimentos. A obrigatoriedade, em 2010, das empresas brasileiras em aderirem ao IFRS (International Financial Reporting Standards) – conjunto de práticas que visa uniformizar as demonstrações financeiras de acordo com um padrão internacional – aumentou o valuation (estimativa do valor) dessas companhias, reduzindo a distância que havia anteriormente entre elas e empresas semelhantes, mas que apresentavam maior grau de governança corporativa. Esses são resultados de estudo publicado em 26 de agosto na “Revista de Administração de Empresas” (RAE). O artigo é assinado por autores da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EAESP), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap).

Os autores analisaram dados de empresas, de 2007 a 2010, com o objetivo de relacionar nível de transparência contábil e valuation. O período coincide com a aprovação da lei que institui o IFRS e o prazo final para a sua implementação. Para essa análise, coletaram demonstrações financeiras e informações corporativas sobre empresas brasileiras de capital aberto, da base de dados Economatica. Também foram considerados dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) sobre a participação acionária de investidores estrangeiros nessas firmas e de liquidez. 

Os pesquisadores chegaram a um universo de 132 empresas, sendo 76 delas listadas nos níveis mais baixos de governança corporativa da Bolsa de Valores de São Paulo (empresas denominadas “tratadas”), que adotaram o IFRS em 2008, e outras 56 firmas semelhantes relacionadas aos níveis mais altos de governança corporativa da bolsa (denominadas “não tratadas” ou grupo de controle), que já haviam adotado o IFRS antes que ele se tornasse obrigatório. Cada empresa tratada teve seu valuation comparado ao de uma empresa não tratada do mesmo setor de atuação, porte e nível de endividamento.

 

Efeitos além da questão contábil

A partir desse pareamento, os pesquisadores demonstraram que a adoção do IFRS pelas empresas tratadas produziu um aumento de 26% na razão entre valor de mercado e valor patrimonial e um crescimento de cerca de 30% do Q de Tobin (indicador que considera o valor de mercado de uma empresa e as suas dívidas, e o valor de reposição, que se refere ao capital necessário para substituir o ativo circulante e o estoque de uma companhia). Com isso, praticamente se eliminou a diferença de valuation que existia anteriormente entre essas companhias e suas similares com alto grau de governança corporativa. O estudo também mostrou um aumento da participação de investidores estrangeiros nas firmas tratadas em relação às firmas do grupo de controle de 19,3% nas ações ordinárias (com direito a voto) no mesmo período.

De acordo com Rafael Felipe Schiozer, professor da FGV EAESP e um dos autores do estudo, embora se refira a algo que aconteceu entre 2007 e 2010, a pesquisa mostra a importância da transparência contábil e de informações para as empresas. “As leis que determinam que as empresas sejam mais transparentes melhoram a avaliação das companhias, e isso acontece em grande medida porque os investidores estrangeiros se dispõem a investir mais nessas empresas. Essas medidas não têm só um efeito contábil. Elas atuam positivamente no mercado financeiro e no ingresso de recursos no país.” 

Termos de uso

Todos os releases sobre as pesquisas nacionais já publicados na área aberta da Bori (e que, portanto, não estão sob embargo) podem ser reproduzidos na íntegra pela imprensa, desde que não sofram alterações de conteúdo e que a fonte Agência Bori seja mencionada.

Veja como citar a BORI quando for publicar este artigo:

Fonte: Agência Bori

Ao usar as informações da Bori você concorda com nossos termos de uso.

Publicado na Bori em 26/8/2020, 23:00 – Atualizado em 21/2/2021, 13:31