8 de março de 2020 Salvar link Foto: Claudia Wolff / Unsplash
Medicina e Saúde

Highlights

  • Entre as 644 recifenses entrevistadas, 16% apresentaram sintomas de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e 10,9% tentaram o suicídio
  • Cerca de um terço das mulheres relataram ter sofrido violência pelo parceiro íntimo (VPI) em alguma fase reprodutiva
  • Probabilidade de tentar suicídio é cerca de duas vezes maior entre as mulheres que não têm alguma religião

Um estudo realizado com 644 mulheres de 18 a 49 anos cadastradas na Estratégia Saúde da Família do Distrito Sanitário II no Recife, em Pernambuco, mostra que a condição de  transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) aumenta em cinco vezes a probabilidade de a mulher tentar o suicídio. A pesquisa mostra também que as tentativas de pôr fim à vida foram mais frequentes também entre as mulheres cujos parceiros não tinham renda e entre as que foram casadas duas ou mais vezes. O estudo, que está na edição de 9 de março da “Revista Brasileira de Epidemiologia”, foi realizado por pesquisadores do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco e recebeu financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Para investigar a frequência de TEPT, os autores aplicaram entre julho de 2013 e dezembro de 2014 o questionário Post-traumatic Stress Disorder Checklist, instrumento desenvolvido nos Estados Unidos, adaptando-o para a língua portuguesa. Já as tentativas de suicídio foram quantificadas por meio da pergunta “Já tentou pôr fim à sua vida?”. A frequência de sintomas de transtorno pós-traumático foi de 16% e o suicídio foi tentado por 10,9% das entrevistadas.

Um terço das mulheres entrevistadas relatam ter sofrido algum episódio de violência pelo parceiro íntimo (VPI) em alguma fase reprodutiva. Nas mulheres, um importante precursor da TEPT é a violência, particularmente a VPI, que, destacam os autores, faz parte do universo de fatores e eventos estressores e/ou traumáticos que podem aumentar as chances de tentativas de suicídio. Foi definido como parceiro íntimo o companheiro e ou ex-companheiro com o qual as mulheres vivem ou viveram, independentemente de união formal, incluindo os namorados atuais. Na amostra das mulheres do Recife, a frequência de VPI foi de 32,1% antes da gravidez; 33,9% na gravidez; 22,2% no pós-parto e 33,1% sete anos após o parto.

Violência pode estar subestimada 

Embora os dados mostrem que cerca de um terço das mulheres tenham sido vitimadas por violência pelo parceiro íntimo (VPI), o autor principal do estudo, Paulino José de Albuquerque Vasconcelos Neto, acredita que os números possam ser ainda mais elevados. Em alguns casos, explica o pesquisador, a mulher considera isso algo natural, não como VPI. “A subestimação da frequência desta violência pode ser decorrente também da insegurança acerca da confidencialidade do relato, medo em relação ao parceiro-agressor, proteção que a mulher dá ao parceiro pelo desejo de manter a relação, especialmente se ele é o pai da criança, fora outros, como o estigma e a vergonha de ser agredida e de ter tentado o suicídio”, analisa Paulino Neto, que ressalta que o projeto teve a preocupação de atuar com entrevistadoras que tinham experiência em pesquisa sobre saúde da mulher ou violência, focando assim em oferecer um ambiente seguro para as entrevistadas e, desta forma, coletar informações precisas.

Religiosidade como fator protetor 

O estudo mostra que, na amostra, a probabilidade de tentar suicídio é cerca de duas vezes maior entre as mulheres que não têm alguma religião. De acordo com Paulino Neto, a explicação pode estar no efeito benéfico de coesão social que é gerado pela religiosidade, que inclui a criação de redes de apoio pelas quais as mulheres podem reconhecer precocemente os sinais de risco para transtornos mentais, dentre eles o risco de tentativa de suicídio.

Paulino Neto comenta que o mérito do trabalho está em evidenciar e quantificar um dos principais desfechos (tentativas de suicídio) associado às mulheres traumatizadas por histórias de vida mergulhadas em violências por seus parceiros. “Um evento que é ocultado, subestimado, desvalorizado e banalizado na maioria das vezes”. Além disso, ao mostrar como a violência é perpetrada contra a mulher antes, durante e depois da gravidez, a pesquisa aponta para a necessidade de se promover mais conhecimento sobre o TEPT, assim como novas pesquisas e estratégias de prevenção deste transtorno, além de se aprofundar quanto à importância do efeito agregador e protetor social da religiosidade, pois grupos mais coesos, concluem os autores, são mais resilientes à tentativa de suicídio.

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Fonte: Agência Bori

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Publicado na Bori em 8/3/2020, 20:00 – Atualizado em 21/2/2021, 13:38