7 de dezembro de 2020 Salvar link Foto: Ibadah Mimpi / Unsplash
Medicina e Saúde

Highlights

  • Entre 2011 e 2018, foram notificados 3.122 casos suspeitos de intoxicação por agrotóxico no Rio Grande do Sul  
  • Maioria das notificações são de homens brancos com baixo nível de escolaridade
  • Em 82% dos casos, a intoxicação foi do tipo aguda, com contato único

Pesquisadoras da Escola de Saúde Pública e do Centro Estadual de Vigilância em Saúde, em Porto Alegre, ao analisar 3.122 casos suspeitos de intoxicação  por agrotóxicos notificados no Rio Grande do Sul entre 2011 e 2018, mostram que o cenário mais comum de contaminação acontece de forma acidental, em 40% dos casos, e na própria residência do trabalhador, em 59% dos casos. Seis em cada dez casos notificados estão relacionados à produção agrícola do estado. O estudo foi publicado em 7 de dezembro na revista “Epidemiologia e Serviços de Saúde”

Na maioria dos casos, as notificações foram de homens (63,7%), brancos (86,9%) com baixo nível de escolaridade. Apenas 4,3% haviam cursado ou completado o ensino superior. Embora a faixa etária mais atingida tenha sido de 20 a 29 anos (20,3%), a maioria (60,6%) das intoxicações suspeitas foi notificada a partir dos 30 anos. Em 82% dos casos, a intoxicação foi do tipo aguda, quando há apenas um evento de exposição do indivíduo à substância tóxica em 24 horas. O diagnóstico da intoxicação foi feito por meio de avaliação clínica em 61% dos casos notificados.

O fato de quase seis entre dez notificações terem ocorrido por contato na própria residência, superando o ambiente de trabalho (33,7), não surpreendeu as autoras. “Esse dado levanta as hipóteses da existência de problemas no armazenamento e de descumprimento da distância mínima recomendada entre a lavoura e a casa. Além disso, no ambiente domiciliar se utilizam também inseticidas, raticidas e produtos destinados ao tratamento de piolhos e outros parasitas, aumentando ainda mais o risco de intoxicação”, observa a sanitarista da Escola de Saúde Pública do Rio Grande do Sul, Amanda Brito de Freitas, que assina a autoria do estudo ao lado da sanitarista Vanda Garibotti. 

Como evitar intoxicações 

A contaminação acidental (40%) foi o principal motivo de intoxicação. Mais do que isso, registrou o dobro da contaminação por uso habitual (20%) e supera também o uso ambiental e tentativa de suicídio. As principais motivações associadas com esses acidentes são o armazenamento em local de fácil acesso, manejo inadequado destas substâncias (incluindo também a reutilização das embalagens) e falta de equipamento de proteção individual (EPI). 

A orientação técnica e a fiscalização nestes casos são fundamentais para evitar os riscos à segurança e à saúde dos trabalhadores rurais. Na agricultura, explica Amanda Freitas, o objetivo do uso do EPI é evitar os riscos químicos que podem levar às intoxicações de forma aguda e crônica, em decorrência da utilização de agrotóxicos. As atividades de pulverização (42%) e diluição (18%) foram as de maior exposição ao agrotóxico. 

“É importante que o empregador proporcione capacitação aos trabalhadores com orientação quanto ao risco à saúde inerente à utilização desses produtos, quanto aos locais adequados de armazenamento e forma correta de manuseio e aplicação, de acordo com os rótulos e as bulas do fabricante; assim como o uso correto da vestimenta adequada incluindo: calças e camisas compridas, que cubram toda a pele, botas, luvas, avental, óculos de segurança ou viseira de proteção, chapéu ou capuz com máscara. Além disso, é importante orientar também sobre as recomendações quanto à manutenção, lavagem, descarte e armazenamento destes EPIs”, detalha.

As autoras vislumbram que o estudo seja utilizado como subsídio para o planejamento das ações da vigilância em saúde e políticas púbicas para a proteção da saúde da população. Ela também concluem que é necessário avançar na identificação dos casos de intoxicação por meio do desenvolvimento de novos métodos diagnósticos a partir de biomarcadores e melhor qualidade da coleta de dados. 

 

Termos de uso

Todos os releases sobre as pesquisas nacionais já publicados na área aberta da Bori (e que, portanto, não estão sob embargo) podem ser reproduzidos na íntegra pela imprensa, desde que não sofram alterações de conteúdo e que a fonte Agência Bori seja mencionada.

Veja como citar a BORI quando for publicar este artigo:

Fonte: Agência Bori

Ao usar as informações da Bori você concorda com nossos termos de uso.

Publicado na Bori em 7/12/2020, 19:00 – Atualizado em 24/6/2022, 8:53