24 de junho de 2021 Salvar link Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil
Política

Highlights

  • Pesquisadores da FGV analisam discurso de Bolsonaro com relação à pandemia em notícias de quatro grandes jornais brasileiros
  • Falas presidenciais usaram a ciência de forma inadequada para dar verniz de cientificidade aos seus argumentos
  • Discursos do presidente também tiveram tendência a transferir a culpa e os custos das medidas impopulares para os governadores dos estados

Ao promover a pseudociência e enfraquecer as ações do Ministério da Saúde, os discursos do presidente com relação à pandemia de Covid-19 seguem padrão semelhante a posicionamentos do governo sobre questões climáticas em 2019. É o que mostra estudo realizado por pesquisadores da Fundação Getulio Vargas (FGV), em parceria com pesquisadores da Universidade de Cape Town, África do Sul, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Universidade de São Paulo (USP) publicada na “Global Public Health” na quarta (23).

O estudo analisou de maneira sistemática mais de 7.200 notícias publicadas sobre Covid-19 em quatro jornais de grande circulação no Brasil (Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo, O Globo e Valor Econômico), entre os meses de janeiro e julho de 2020, período mais crítico da pandemia, em que havia pouco conhecimento sobre o vírus. Ao explorar em profundidade essas notícias, os pesquisadores notaram quatro principais padrões nos discursos do presidente em torno da pandemia:

  • Diminuição da importância do distanciamento social;
  • Negacionismo científico e simplificação dos impactos da pandemia;
  • Uso inadequado da ciência para dar um verniz de cientificidade aos argumentos;
  • Transferência para os governadores estaduais da culpa e dos custos das medidas impopulares.

Essas conclusões foram possíveis com o uso de técnicas Processamento Natural de Linguagem (NLP), um campo da inteligência artificial que permite analisar um grande volume de dados textuais, destacando padrões e criando categorizações. “Ao analisar o cluster associado ao presidente, identificamos uma série de discursos que corroboram o que os observadores e analistas definem como uma resposta fraca e controversa à pandemia”, explica Lira Luz Benites Lázaro, uma das autoras do estudo.

Os pesquisadores ressaltam que as ações do presidente não apenas têm implicações na forma como o país lida com a pandemia, mas também afetam o seu desenvolvimento econômico sustentável. Para os autores do estudo, o ímpeto de manter a economia funcionando, a despeito das altas taxas de mortalidade e da destruição da Amazônia, sugere que suas prioridades são de curto prazo, às custas do meio ambiente e da sustentabilidade social.

Para Elize Massard da Fonseca, que também é autora do estudo, mais do que pedir para que esses líderes levarem a ciência a sério, é preciso investigar por quê eles agem assim. “Os índices de aprovação de Bolsonaro aumentaram em 2020, o que sugere que seu discurso ressoou com uma parcela do eleitorado, mesmo com o aumento do número de mortes. É fundamental que estudos futuros investiguem os determinantes do populismo, particularmente durante pandemias”, sugere.

Termos de uso

Todos os releases sobre as pesquisas nacionais já publicados na área aberta da Bori (e que, portanto, não estão sob embargo) podem ser reproduzidos na íntegra pela imprensa, desde que não sofram alterações de conteúdo e que a fonte Agência Bori seja mencionada.

Veja como citar a BORI quando for publicar este artigo:

Fonte: Agência Bori

Ao usar as informações da Bori você concorda com nossos termos de uso.

Publicado na Bori em 24/6/2021, 6:41 – Atualizado em 2/3/2023, 11:52